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Do Império aos dias atuais: antiga Polícia Militar do estado do Rio completa 186 anos

Primeira Guarda Policial do RJ era conhecida como “Treme-Terra”

relogio min de leitura | Escrito por *Claudionei Abreu | 14 de abril de 2021 - 14:37
Brasão da Guarda Policial "Treme-Terra"
Brasão da Guarda Policial "Treme-Terra" -

Em 1834, durante o período em que o Império do Brasil foi comandado pelos regentes, tendo em vista a abdicação de Dom Pedro I e a minoridade de Dom Pedro II, várias mudanças significativas foram aprovadas para o país. O Ato Adicional de 12 de agosto de 1834 transformou a cidade do Rio, então sede da Monarquia, em um município neutro, separando-o do restante da província do Rio.

Por conta dessa decisão, surgiu a necessidade de criar uma polícia específica zelar pela paz e a ordem pública no restante da província do Rio de Janeiro. Assim, no dia 14 de abril de 1835, nasceu a Guarda Policial da província do Rio de Janeiro, que, anos mais tarde, viria a ficar conhecida como “Treme-Terra”. O município de Niterói passou a ser capital da província e abrigou a sede da nova guarda, que era responsável pela área que corresponde ao interior e à Baixada do atual estado do Rio.

Atual sede do 4º CPA, a Caserna General Castrioto foi a primeira sede da Guarda Policial do RJ
Atual sede do 4º CPA, a Caserna General Castrioto foi a primeira sede da Guarda Policial do RJ |  Foto: Leonardo Ferraz/O São Gonçalo
 

O primeiro Comandante-Geral da Guarda Policial foi o então Capitão do Exército Brasileiro, João Nepomuceno Castrioto, que foi ajudante de ordens do Tenente-Coronel Luis Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias. Castrioto exerceu o cargo de Comando-Geral da Guarda por 25 anos, até março de 1861, quando foi reformado. Seu nome batizou o espadim ostentado pelos cadetes da Escola de Formação de Oficiais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro de 1958 a 1975, quando houve a fusão do estado da Guanabara com o estado do Rio de Janeiro. Com isso, a Polícia Militar e a Guarda Policial transformaram-se em uma única instituição. A atual sede do quartel do Quarto Comando de Policiamento de Área (4º CPA), antiga sede da Guarda Policial, leva o nome do Capitão Castrioto.

Ao longo de sua história, a Guarda Policial da Província do Rio de Janeiro teve participação marcante em várias batalhas travadas pelo Brasil. Uma delas, de grande destaque, foi na Guerra do Paraguai, em 1865, onde a participação dos brasileiros foi decisiva para combater as tropas do ditador Solano Lopez. A participação da Guarda, junto ao Exército Brasileiro, foi reconhecida também pelo governo Argentino, que criou uma medalha de bravura denominada como “Medalha de Bravura 12º Corpo de Voluntários da Pátria”, em homenagem aos policiais.

Inaugurado há cinco anos, Centro de Memória foi criado para manter viva a história da instituição
Inaugurado há cinco anos, Centro de Memória foi criado para manter viva a história da instituição |  Foto: Leonardo Ferraz/O São Gonçalo
 

Além da Guerra do Paraguai, ainda na época do Império, a Guarda Policial teve participação especial em outros momentos da história do Brasil, contrapondo-se à Revolta da Armada (1893), Revolta da Vacina (1904), Golpe de 1930 e à Revolução Constitucionalista (1932).

O nome “Treme-Terra” remonta aos campos de batalha da Guerra do Paraguai. Por andarem sempre em conjunto, em marcha, e pelo grande contingente, dizia-se que a terra tremia quando a Guarda Policial passava. Daí, surgiu o nome que batizou a antiga polícia do Rio de Janeiro e que atualmente está no lema do 4º CPA: “Sobe serra, desce mar. Avante, valente, Treme-Terra!”

O comandante Vollmer destaca importância de manter viva a história da corporação
O comandante Vollmer destaca importância de manter viva a história da corporação |  Foto: Leonardo Ferraz/O São Gonçalo
 

O Comandante do 4º CPA, Marco Aurélio Vollmer, que ingressou na PM há 31 anos, defende a tradição dos “Treme-Terra” como um momento importante da história da Polícia Militar e um símbolo de pertencimento dos agentes.

“Eles nos deixaram um legado de abnegação, de comprometimento e seriedade com a corporação e com a sociedade. Precisamos disso para lidar com os problemas que enfrentamos no dia a dia e buscamos levar isso para conseguir fazer um trabalho técnico e equilibrado para anteder os anseios da população”, afirmou.

O Comandante Vollmer também destaca a importância de resgatar e manter viva a história da corporação.

“Não podemos deixar que história da nossa instituição seja apagada, porque assim perdemos grande parte daquilo que somos hoje. Por isso, temos que celebrar, temos que comemorar e lembrar sempre o passado dos nossos heróis. A data de hoje é de suma importância para todos os policiais militares”, conclui.

Centro de Memória Treme-Terra guarda parte da história da antiga Guarda Policial
Centro de Memória Treme-Terra guarda parte da história da antiga Guarda Policial |  Foto: Leonardo Ferraz/O São Gonçalo
 

Memória Viva

O prédio histórico que abriga o atual quartel do 4º CPA protege também relíquias que contam toda a história da antiga Polícia Militar do Rio de Janeiro. Isso porque, no local, foi criado, há aproximadamente cinco anos, o “Centro de Memórias Treme-Terra”, que guarda desde os primeiros trajes até documentos mais importantes que contam a história da Guarda Policial. De acordo com a administração do 4º CPA, o espaço será aberto, após a pandemia, para visitação de pessoas interessadas em conhecer a história da Guarda Policial do Rio de Janeiro.

O Coronel da reserva Ricardo da Silveira Furtado, presidente da Associação "Treme-Terra", conta que a organização foi criada com objetivo de manter viva a história e o legado da antiga Guarda Policial.

"Nosso objetivo é manter viva as tradições "Treme-Terra", realizando atividades e ações que sempre possam relembrar o nosso passado. Por isso, fundamos, em 2004, a nossa associação e sempre nos reunimos para lembrar histórias, discutir sobre a associação e também sobre o futuro da instituição. O maior legado que nós podemos deixar para os atuais e futuros policiais é a nossa tradição de dedicação com a sociedade e amor à farda", disse.

Imagem do Capitão Castrioto na sede do 4º CPA, em Niterói
Imagem do Capitão Castrioto na sede do 4º CPA, em Niterói |  Foto: Leonardo Ferraz/O São Gonçalo
 

Quem foi o Capitão Castrioto

Ajudante de Ordens do Duque de Caxias e Comandante da Guarda Policial do Rio por mais de 25 anos, o Capitão Castrioto dá nome à sede do atual 4º CPA e também a um Colégio Estadual localizado há poucos metros dali, no bairro São Lourenço, também em Niterói. Nascido em 1801, na Província do Rio de Janeiro, era descendente em linha direta de Jorge Castrioto e do Imperador Romano Constantino. Em 1809, foi Praça de Primeiro Cadete Voluntário, sendo promovido a Alferes em outubro de 1822. Em seguida, foi promovido a Aferes Ajudante (1824), Tenente Ajudante (1825), Capitão (1828), Major Graduado (1837), Major Efetivo (1842), Tenente-Coronel Graduado (1844), Tenente-Coronel Efetivo (1855), Coronel (1861) e Brigadeiro (1863).

Além de carreira militar, o João Castrioto também seguiu carreira política. Foi deputado provincial (o equivalente a deputado estadual hoje) em 18 legislaturas ininterruptas, durante 34 anos, desde 1840 até o seu falecimento. Possuía a Medalha do Exército Libertador da Bahia, era Cavaleiro da Ordem de São Bento, Cavalheiro da Imperial Ordem Rosa e Cavaleiro da Imperial Ordem do Cruzeiro, algumas das mais importantes honrarias imperiais.

Passado e Presente

A história “Treme-Terra” atravessou gerações. Na comemoração dos 186 anos da instituição, os atuais policiais do 4º CPA produziram vídeos com homenagens aos antigos membros da Guarda Policial do Rio de Janeiro. Alguns dos que hoje trabalham no local são filhos de antigos policiais que atuavam na antiga força policial do estado.

Passado e presente: pais e filhos "treme-terra" celebram aniversário da antiga força policial
Passado e presente: pais e filhos "treme-terra" celebram aniversário da antiga força policial |  Foto: Arquivo Pessoal
 

O Coronel André Henrique de Oliveira Silva, atual Chefe do Estado Maior do 4º CPA, está na PM há 27 anos. Ele é filho do 2º Sargento Antunes, que serviu à Guarda Policial na década de 70. As duas gerações, que têm suas histórias ligada não apenas pelos laços familiares, mas pela paixão com o trabalho que exercem, orgulhosamente refizeram uma foto no pátio do comando após 50 anos.

“Temos, hoje, muitos filhos de antigos “Treme-Terra” aqui na nossa instituição e ficamos muito contentes em poder dar continuidade ao legado dos nossos pais, defendendo a trajetórias deles e também o legado que eles deixaram para nós”, conta.

Além dos laços familiares: gerações unidas pela história "treme-terra"
Além dos laços familiares: gerações unidas pela história "treme-terra" |  Foto: Arquivo Pessoal
 

Quem também guarda com orgulho a história de “Treme-Terra” na família é o Cabo Anderson Electo, de 27 anos, que está na PM há oito anos. Seu pai, já falecido, foi o 3º Sargento Helvio, que atuou como alfaiate na antiga Guarda Policial. O agente também refez uma foto no 4º CPA, mesmo local onde o pai trabalhou, como parte das homenagens feitas aos antigos policiais.

*Estagiário sob supervisão de Thiago Soares

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