Após vencer o câncer, jovem de 22 anos faz vaquinha para conseguir prótese e amputar perna

Descobrir um câncer no auge dos 19 anos não é fácil. Pior ainda deve ser passar pelo procedimento da quimioterapia, mas Mylena Ribeiro venceu essas adversidades com um sorriso no rosto e muita vontade de viver. A jovem, de 22 anos, lutou em busca de continuar vivendo da melhor forma possível e hoje se vê livre da doença. No entanto, a niteroiense ainda busca conquistar mais vitórias e se tornar independente das muletas, que viraram suas companheiras desde antes da retirada do tumor.

Para isso, Mylena precisa amputar a perna esquerda e colocar no lugar uma prótese que custa R$ 48 mil. Para reunir o dinheiro, ela resolveu criar uma vaquinha online na noite desta segunda-feira (12). Além da força, seu carisma tem feito ela conseguir algumas doações, mas ainda está distante do valor necessário.

Mylena vivia uma vida normal. Estava se tornando independente financeiramente ao conseguir um estágio na área de pedagogia, tinha um relacionamento amoroso, cursava a faculdade e era cercada de amigos e familiares. Até que em meados de 2018, ela começou a sentir muitas dores no joelho esquerdo, mas os médicos diziam que poderia ser uma tendinite ou um problema de varizes. Em setembro, ao viajar com o ex-namorado, ela levou uma mochilada no local e aí entendeu que não se tratava de um problema leve. Então, buscou fazer novos exames e, no dia 22 de novembro de 2019, o médico deu o diagnóstico de que possuía osteosarcoma, um câncer raro que já estava no nível 3 e possuía 16 cm. 

"Eu lembro que antes de me darem os resultados, os médicos estavam reunidos cochichando, chamaram a minha mãe, mesmo eu sendo maior de idade e eu achei aquilo esquisito. Fizemos muitos exames em um hospital em São Gonçalo e lá me deram o diagnóstico do câncer. Lembro que eles nem falavam que era câncer, chamavam de tumor pelo peso da palavra. Na hora, eu só aceitei o diagnóstico e o médico me explicou tudo, até sobre amputação. A ficha começou a cair mesmo quando eu comecei a fazer a quimioterapia", contou ela.

Mylena, então, começou a frequentar o Instituto Nacional de Câncer II (INCA) e lá ela realizou novos exames. Começou a quimioterapia em dezembro de 2018. "Eu fiz quatro sessões de quimioterapia antes da cirurgia para retirar o câncer e mais três sessões depois para evitar algum problema e foi a pior experiência da minha vida, eu nunca mais quero sentir isso novamente. Eu tive muitos enjoos, era muita vontade de vomitar, o cansaço e tudo mais, sem contar a queda de cabelo. Eu raspei minha cabeça, e, na época, foi muito emocionante. Inicialmente, eu tinha um cabelão e cortei curtinho. Após ver que a queda de cabelo continuava e saíam tufos da minha cabeça, eu resolvi raspar. Até minha mãe e minha irmã se emocionaram. Lembro que no dia que raspei, o dono do salão, que é meu amigo, me maquiou e eu saí linda de lá. Antes da cirurgia, eu passei pela quimioterapia vermelha e o remédio usado me causou uma disfunção cardíaca. Eu entrei na quimioterapia pesando 55 kg e saí com cerca de 40 e pouco ", relatou Mylena.

Após todo o processo doloroso, Mylena fez sua cirurgia em abril de 2019. "Na cirurgia, retiraram a minha tíbia e colocaram uma prótese no lugar, mas ainda por dentro da perna. Após o procedimento, eu comecei a quimio novamente só que com outro remédio, mais leve, mas que me deu problemas na bexiga. Então, o médico suspendeu a última sessão de quimio por causa disso. Eu tinha que fazer quatro sessões após a cirurgia, mas só fiz três", contou ela.

A jovem fez a cirurgia para vencer o câncer em abril de 2019 |  Foto: Arquivo Pessoal

Antes do procedimento cirúrgico, Mylena viajou para Salvador e, apesar de já estar com as muletas e de cadeira de rodas por ter que colocar pouco o pé no chão - á que tinha risco de cair e fraturar e, com isso, as células do câncer poderiam se espalhar - ela viveu o momento. "Fui muito bom até pro meu estado mental, pois mudou meus ares, mudou minha cabeça, me ajudou a relaxar antes da cirurgia, mesmo sendo época de Carnaval e eu não podendo literalmente pular o Carnaval, mas curti como pude", relatou.

Em 2019, antes da cirurgia, ela viajou para Salvador e conseguiu viver um pouco e relaxar de toda essa situação |  Foto: Arquivo Pessoal

Depois de um processo intenso de cirurgia e quimioterapia, Mylena achou que teria sua vida completamente de volta, vivendo com qualidade. "No início, eu tive uma bolha na cicatriz que precisou ser cuidada e impediu que eu começasse direto a fisioterapia, fiquei um pouco de cama. Depois, eu iniciei a fisioterapia, mas no início foi difícil, já que eu perdi o movimento do pé esquerdo. Apesar de conseguir mexer os dedos, eu não mexia o pé. Com o tempo, o meu joelho esquerdo começou a inflamar, rejeitando a prótese, e a partir daí eu sentia muita dor. Desde então, eu tomo remédios fortes para a dor, vivo de muleta e sempre sinto uma instabilidade no joelho, ele trava e eu sempre me seguro em algum lugar para não cair. Até que, em janeiro de 2021, eu caí da minha altura após descer a escada, meu joelho ficou instável do nada e eu não consegui me segurar, minha perna virou a mais de 90 graus, que era o que a prótese permitia, e eu fiquei preocupada, pois a perna inchou. Apesar disso, no Inca, eles viram que não era nada demais, mas eu contei das dores e os médicos sugeriram a amputação", relatou a estudante da Uerj de São Gonçalo.

Emocionada, a jovem não sentiu medo da amputação quando ouviu a possibilidade dos médicos. "Pra mim, foi um alívio, pois eu pesquisei e vi muita gente fazendo exercícios físicos e outras coisas mesmo amputados e é isso que eu quero. Hoje, eu não consigo caminhar, passear no shopping e ficar muito tempo em pé por causa das dores e tomo remédios como morfina. Então, com a amputação, eu acho que vou conseguir voltar a minha vida de antes, indo para a academia, correndo, fazendo as minhas coisas, ser independente. Eu sei que após a cirurgia de amputação e após a prótese, eu vou passar por outro processo de readaptação, mas eu já passei por outras coisas e vou vencer também. Sei que vai ser uma próxima batalha, mas eu quero vencer. Eu vivo falando para minha mãe que eu tenho pressa de viver, eu não quero só sobreviver", disse.

Mylena vive de muleta, mas hoje quer se tornar mais independente delas e a prótese é a solução |  Foto: Arquivo Pessoal

Mylena ainda não sabe quando será sua cirurgia. Inicialmente, o procedimento estava marcado para o mês de abril, mas com o novo lockdown, o Inca remarcou o procedimento e ainda não informou a nova data. No entanto, Mylena já criou a vaquinha e conta com apoio de amigos que estão fazendo rifas e outros procedimento para arrecadar dinheiro. "Eu sei que o Inca tem uma prótese que eles dão, mas eu queria uma que permitisse correr e fazer o que eu gosto. Além disso, na pandemia, eles informaram que receberam menos próteses e que o procedimento para a entrega dos materiais pelo Sistema Único de Saúde (SUS) agora demanda a espera em uma fila e, como eu disse, tenho pressa de viver!", relatou ela. 

Hoje, Mylena decidiu pela amputação de sua perna esquerda |  Foto: Arquivo Pessoal

Ao todo, a jovem precisa arrecadar R$ 48 mil para conseguir comprar a prótese. Para aqueles que quiserem ajudar, basta doar qualquer valor na vaquinha ou pela conta de banco abaixo:

Banco Itaú

Mylena da Silva Ribeiro

Agência: 9371 Conta corrente: 24204-2

Pix: 05790322727