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Preso por roubo, marceneiro afirma ser inocente: "nunca nem joguei papel de bala no chão"

Os bandidos usaram um carro vendido por Welington para cometer o crime

relogio min de leitura | Escrito por Ana Carolina Moraes | 26 de março de 2021 - 16:56
Os bandidos usaram um carro vendido por Wellington para cometer o crime
Os bandidos usaram um carro vendido por Wellington para cometer o crime -

"Nesses meus 45 anos eu nunca fiz nada, fui criado para ser decente, nunca joguei nem um papel de bala no chão e ser preso acusado de um roubo que não cometi é uma dor muito grande. Graças a Deus eu tenho muitos amigos e clientes que se importam comigo e se mobilizaram nas redes sociais para me ajudar". Esse é o relato emocionado do marceneiro Welington da Silva Gomes, morador da Trindade, que foi preso no último dia 16, acusado de um roubo de celular do qual ele afirma não ter cometido. A foto de Welington viralizou nas rede sociais, pois sua família e amigos buscavam provar sua inocência. A prisão do marceneiro ocorreu após um de seus antigos carros, vendido por ele em 2012, ter sido utilizado no crime. O marceneiro foi libertado na última quinta-feira (25), após seu advogado conseguir a reconsideração da prisão preventiva, com a consequente expedição de Alvará de Soltura. Ao todo, ele passou 9 dias detido.

No crime que ocorreu em meados de 2019, uma pessoa foi roubada e teve seu celular levado por alguns bandidos. A vítima, então, denunciou o caso à polícia que, ao investigar, conseguiu identificar o veículo e a placa do automóvel utilizado. Durante as investigações, os agentes encontraram o endereço do dono do carro e emitiram um mandado de prisão contra ele. O carro estava no nome de Welington e, por isso, ele começou a ser um dos alvos da polícia, mesmo sem saber. A confusão teria ocorrido quando Welington vendeu esse mesmo carro, um Pálio, para uma outra pessoa há nove anos atrás, mas, o marceneiro cometeu um erro: ele não passou os documentos do veículo vendido para o nome do novo dono, ou seja, os documentos do veículo continuavam registrando Welington como proprietário.

Os bandidos usaram um carro vendido por Wellington para cometer o crime
Os bandidos usaram um carro vendido por Wellington para cometer o crime |  Foto: Leonardo Ferraz
 

"Eu acredito que a minha falha nesse caso foi não ter alterado os documentos do meu carro do meu nome para o nome da pessoa para a qual eu vendi. Na época, o novo comprador disse que ia passar os documentos para o nome dele e eu confiei, cheguei até mesmo a assinar um papel que eu achava que serviria para alterar os papéis do carro, mas, pelo jeito, até hoje eu continuo como dono do veículo. A pessoa que eu vendi passou o carro para outra e meu nome continua constando como dono do veículo nos documentos", contou o marceneiro. 

Welington só teve conhecimento da denúncia contra ele no dia 16 de março, quando foi preso. "Eu estava no Detran da Ilha do Governador, pois, apesar de morar na Trindade, só consegui achar um horário para lá. No Detran, eu iria alterar uns documentos para vender um carro que tenho hoje. Quando cheguei lá, um homem veio na minha direção e perguntou se eu era o Welington, respondi que sim. Ele perguntou o nome dos meus pais e eu confirmei. Nesse momento, ele me algemou e eu fiquei desesperado, pois não sabia o que estava ocorrendo, cheguei até a pedir por socorro. Depois, ele me levou para a viatura e eu entendi que era um policial. Ele me explicou, então, que havia um mandado de prisão aberto no meu nome e eu não entendi nada", disse Welington, que foi levado para a Cidade da Polícia.

Quando viram a placa do carro que cometeu o roubo e puxaram os documentos do veículo, viram que ainda estava no meu nome e acharam meu endereço Wellington

O marceneiro acionou seu advogado, que, no dia seguinte, começou a buscar por informações da acusação contra Welington. Foi então que ele descobriu tudo o que estava ocorrendo e a confusão envolvendo um carro antigo do acusado. "Quando viram a placa do carro que cometeu o roubo e puxaram os documentos do veículo, viram que ainda estava no meu nome e acharam meu endereço. Eles, então, acharam que eu tinha cometido o crime, mas esse carro não estava comigo há 9 anos. Os policiais tinham esse mandado contra mim, mas nunca me mandaram nenhum intimação, nada, para ouvir minha história. Só me acusaram e fim! Eles já me declararam culpado e era isso! Depois, eu descobri que a vítima me reconheceu por fotos, mas acredito que ele estava nervoso e tudo mais e pode ter se confundido", contou ele.

Os bandidos usaram um carro vendido por Wellington para cometer o crime
Os bandidos usaram um carro vendido por Wellington para cometer o crime |  Foto: Leonardo Ferraz
 

Welington foi levado para o presídio de Benfica, onde permaneceu até ser libertado. "Eu já vi casos de pessoas presas que não cometeram crime nenhum, como eu, só que eu jamais imaginei que essa situação ocorreria comigo e ocorreu. Lá dentro, eu não fui maltratado, pois entenderam que no meu caso era um engano, mas, ainda estava aguardando a Justiça", relatou ele. Após isso, o advogado do gonçalense conseguiu fazer com que ele recebesse um alvará de soltura. "Até a vítima do crime viu meu caso e se sensibilizou. Ele, depois do nervosismo e ao ver minha foto nas redes sociais, relatou que eu não era o homem que o havia roubado", contou o marceneiro.

Welington percebeu o quanto era querido após sua prisão. Isso porque diversos clientes, amigos e familiares se mobilizaram nas redes sociais para protestar contra a injustiça cometida contra ele. "Minha filha mais velha foi lá me buscar no dia em que fui solto, junto com outros familiares e amigos. Todo mundo lá fora me aguardando e eu fiquei todo feliz. Até uma pessoa na delegacia me falou que todo mundo estava pedindo minha libertação. Eu acredito que quando você é do bem, Deus vai estar com você", comentou ele.

O marceneiro agora luta para retirar sua foto e sua acusação do sistema da policial. "Agora eu tenho medo de usarem a minha foto para me acusar de algum outro crime que não cometi, pois minha foto está no sistema deles, mesmo não tendo cometido roubo nenhum. Meu medo é estar andando na rua normalmente e sofrer esse constrangimento de ser preso novamente por algo que não fiz. Só torço para que isso se arquive logo e passe. Eu acredito que quem me conhece sabe da minha índole e entende que eu jamais faria isso. Agora que fui solto estou feliz, pois hoje (26) é aniversário da minha filha mais velha, de 19 anos, e vou comemorar com ela e com a família", disse Welington.

Os bandidos usaram um carro vendido por Wellington para cometer o crime
Os bandidos usaram um carro vendido por Wellington para cometer o crime |  Foto: Leonardo Ferraz
 

O jornal O SÃO GONÇALO procurou Edney Alves de Carvalho, de 47 anos, o advogado de Welington, para saber mais detalhes sobre a acusação contra o marceneiro. "Acredito que a Polícia Civil cometeu um erro nesse caso, pois não convidaram o Welington a prestar um esclarecimento para saber onde ele estava quando ocorreu o roubo do celular, nada, mesmo sabendo o endereço dele e o telefone ao pesquisarem a placa do carro do crime. Em nenhum momento convocaram ele para nada, apenas representaram por sua prisão preventiva. Com isso, o juiz viu a vítima reconhecendo o acusado e viu o carro no nome de Welington e decretou a prisão preventiva dele. A vítima reconheceu o Welington como o criminoso em uma foto na qual ele tinha 17 e 21 anos anos, que estava nos arquivos do Detran, ou seja, uma foto antiga. Depois de ver a foto do acusado nas redes sociais, a vítima afirmou que não foi Welington quem o assaltou, que ele havia cometido um equívoco em sua acusação. É importante ressaltar que o Welington já foi vítima de um assalto em 2013 e já presenciou um homicídio quando estava caminhando na rua e, por isso, os policiais sabiam quem ele era. Para a juíza que decretou a prisão preventiva dele, isso não foi explicado, ela achava que ele estava envolvido nos crimes, quando ele foi apenas a vítima", contou o advogado que atua na área desde 2005. 

Edney esclareceu que Welington foi preso após um mandado prisão preventiva. "O mandado de prisão preventiva é expedido quando o acusado não tem endereço fixo ou trabalha com algo ilícito ou até mesmo quando ele está difícil de localizá-lo e, assim, ele pode não comparecer ao tribunal e às audiências. O que não é o caso do Welington que é réu primário e possui endereço e trabalho fixos. Por isso, eu requeri a reconsideração da prisão preventiva dele. Agora, vamos aguardar ele responder o processo em liberdade, com restrições, e vamos em todas as audiências afim de provar a inocência do Welington", respondeu o advogado. Até o momento, não há data definida para uma nova audiência do caso. 

Contudo, o caso ainda segue em andamento e Welington deverá comparecer periodicamente à Justiça e quando for convocado, pelo menos por enquanto. O marceneiro, pai de duas filhas, pretende seguir sua vida e continuar trabalhando em sua marcenaria em Tribobó.

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