Tratamento de esgoto X Baía de Guanabara (Republicação)
Em agosto de 2016, a belga Evi Van Acker, se tornou a primeira atleta da vela a ficar doente após competir na Baía de Guanabara. Medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Londres (2012), ela era uma das favoritas e esperança de medalha da Bélgica nos Jogos Olímpicos do Rio. À época, a Federação Internacional de Vela afirmou que a velejadora se sentiu mal por conta das águas da Baía da Guanabara, que não foi despoluída como prometido pelos dirigentes olímpicos brasileiros em campanha para que o Rio de Janeiro sediasse os Jogos.
Outros casos foram registrados. Erik Heil, velejador alemão, teve de ser tratado em 2015, após contrair diversas infecções. Ele também culpou as águas do Rio de Janeiro. As águas da Baía de Guanabara e a sua prometida despoluição foi um assunto recorrente antes e durante os Jogos Olímpicos. Os organizadores diziam que testes eram sempre realizados em todos os dias de competição e às vésperas dos Jogos e a qualidade da água atendia o padrão de balneabilidade.
Na busca por sediar os Jogos Olímpicos, os representantes brasileiros se comprometeram a despoluir 80% do corpo d’água, o que seria feito com o saneamento e tratamento do esgoto doméstico dos municípios ao redor da baía. As cidades ainda despejam pesada carga orgânica diretamente nas águas dos rios que deságuam na Guanabara. Esse é o objeto da nossa conversa, hoje, por isso, essa particularidade envolvendo os Jogos Olímpicos do Rio preambulou o nosso texto.
O governo do estado afirma que o saneamento na área passou de 12% em 2005 para 50% atualmente, mas ambientalistas e pesquisadores questionam os números. Integrantes do movimento Baía Viva afirmam que o relatório enviado ao Comitê Olímpico Internacional (COI), dizendo que o tratamento passou de 10% para 50% não é verdadeiro. Pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)conseguem comprovar que o tratamento não alcança 20%.
Ambientalistas classificam como “Propaganda Enganosa” o compromisso de despoluir 80% da Baía de Guanabara. Curiosamente, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) alertou que o resultado do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG) era insatisfatório, insuficiente e que nenhuma meta ambiental foi cumprida. Esse programa foi financiado pelo BID e pelo Japan Bank for Internacional Cooperation (JBIC). Em 15 anos (1991/2006) o PDBG recebeu US$ 800 milhões. Quatro estações de tratamento de esgoto foram construídas, mas os troncos coletores para levar os efluentes até lá nunca foram concluídos.
Uma visita aos municípios de Rio Bonito, Tanguá, Itaboraí, São Gonçalo e Niterói comprova a “Propaganda Enganosa” apontada pelos ambientalistas. Não precisa ser “eco chato” para perceber que no município de Rio Bonito, por exemplo, não existe Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) e todo dejeto produzido é despejado ‘in natura’ nos rios que, por acaso, desembocam na Baía de Guanabara. As centenas de nascentes que fazem da cidade um dos mananciais hídricos mais ricos da Região,logo são poluídas com esgoto doméstico. Apesar disso, o governo do Estado não dá nenhuma atenção a esse fato. Como despoluir a baía sem investir no nascedouro do problema?
Que tipo de campanha de conscientização dos munícipes, no sentido de preservar a limpeza das águas, é desenvolvida pelo estado e pelas Prefeituras das cidades que poluem as águas da baía?Em 2016, a única fala mais lúcida partiu do então secretário estadual de Meio Ambiente, André Corrêa. Ele admitiu que a promessa de despoluir a Baía de Guanabara era ambiciosa. “Qualquer pessoa que disser que essa baía estará em condições ambientalmente adequadas em menos de 25 ou 30 anos está mentindo. Não vamos fazer isso no curto prazo”, declarou Correia num evento sobre as medidas tomadas para os Jogos Olímpicos do Rio.
Diante dos cenários que apontamos aqui, não há muito mais o que dizer, mas há muito que fazer.
(Republicação – Correção Grupo de Pesquisa)