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Mauá: de clube operário á referência no esporte em São Gonçalo

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 21 de julho de 2015 - 10:48

No início da década de 1960, o Mauá conquistou o tricampeonato da Liga Gonçalense, já jogando no atual campo da Avenida Presidente Kennedy, no Centro de São Gonçalo.

Foto: Divulgação

Por Ari Lopes, Sérgio Soares e Gustavo Aguiar

De simples agremiação criada para o lazer de operários de uma indústria de cimento, o clube Esportivo Mauá (CEM) virou referência para o esporte gonçalense. E o futebol não poderia deixar de ser uma das marcas registradas do ‘Tricolor’. Mesmo mantendo o futebol como uma modalidade amadora e de âmbito regional, o Mauá, ao longo de 77 anos de existência, fez história e fama com a conquista de vários títulos e a projeção de craques, como o lateral direito Altair, um dos integrantes da Seleção Brasileira bi-campeã mundial no Chile, em 1962.

Os operários que fundaram o clube, em 8 de agosto de 1937, trabalhavam na Companhia Nacional de Cimento Portland (CNCP) que tinha núcleos em São José, Itaboraí, e em Guaxindiba, na região rural de São Gonçalo. As peladas nas horas de folga foram a inspiração para a criação da agremiação, na sede do sindicato da Indústria de Cimento, Cal e Gesso, na Rua Doutor Nilo Peçanha, no Centro de São Gonçalo.

serie de futebol 21 500 Compra do Maua foto DIVA publicação “Mauá”, um livro aberto, sobre a história do clube e escrito por membros do Departamento de Relações públicas da entidade, mostra que ele recebeu inicialmente o nome de Incor, alusivo a uma das marcas de cimento fabricados pela CNPC. Naquele bairro foi montada a primeira sede e o campo de futebol, erguidos numa área próxima, na antiga Fazenda dos Arcos.

Os primeiros sete anos do Incor foram difíceis porque a empresa não dava nenhum tipo de ajuda, apesar de operários da fábrica serem os diretores do clube. O Incor estava prestes a falir quando um grupo de dirigentes decidiu entregar à administração a interventores do alto escalão da empresa. A parceria começou a ganhar corpo com a doação de uma verba de 500 mil cruzeiros para investimentos. Foi feita uma mudança dos estatutos e a agremiação ganhou o nome de Clube Esportivo Mauá, registrado no Cartório do 1º Ofício de São Gonçalo, em 9 de outubro de 1944.

E nesse processo, o clube ganhou ‘raízes’ em uma área de 21 mil metros, comprada na Avenida Presidente Kennedy, no Centro de SG, onde até hoje existe a atual sede. A Praça de Esportes foi inaugurada no dia 10 de junho de 1945, uma data especial. Na ocasião, em um jogo entre Mauá e Radiante Futebol Clube, pela Terceira Divisão da Liga Gonçalense, foi conquistado o primeiro título pela equipe.

Com a chegada de Flávio Laranja, um aficionado pelos esportes, o clube “decolou” de vez no futebol, vencendo cinco campeonatos juvenis: 1945, 1946, 1947, 1949 e 1950. Além do futebol, o basquete, o tênis de mesa e o ciclismo passavam a figurar também entre as principais modalidades.

Rivalidade - Aos poucos, o Mauá deixava de ser um clube de empregados de uma fábrica para representar a sociedade gonçalense, equiparando-se ao Tamoio, outro “gigante” da cidade em ordem de grandeza. “Se eles realizavam um grande projeto, procurávamos fazer outro mais grandioso ainda”, revelou o atual presidente do Mauá, Alberto Moritz Goldstein.

Construção do atual campo, na Avenida Presidente Kennedy
Construção do atual campo, na Avenida Presidente Kennedy

Tricampeonato e emancipação

A partir do fim da década de 50, o Mauá não parou de cescer. Em novembro de 1959, era inaugurada a nova sede, o Palácio Social, em evento que reuniu representantes de setores organizados da sociedade e mereceu destaque na imprensa. O tricampeonato municipal, nos anos de 1962, 1963 e 1964, mostrou o poderio dos tricolores no futebol gonçalense. Um ano mais tarde, veio a emancipação da CPNC. O clube passou a aceitar novos associados e recebeu também da empresa todas toda área da sede para para continuar as atividades.

Entre 1974 e 1978, o Mauá incorporou o Nacional Atlético Clube, trazendo com este um novo elenco, onde, logo na primeira temporada, sagrou-se campeão sobre o Unidos do Porto da Pedra na emocionante final de 1976. A partir da década de 80, já sob a gestão do atual presidente, Alberto Moritz Goldstein, passou por amplo processo de modernização, com ampliação da área da sede e a construção de um ginásio. Criadas pela a atual gestão, a Malha e o Handebol deram títulos de projeção nacional ao clube.

Com construção da sede própria e auxílio da empresa, Mauá montou um escrete na década de 1950
Com construção da sede própria e auxílio da empresa, Mauá montou um escrete na década de 1950

As dificuldades em conseguir parcerias fizeram com que o Mauá deixasse a área esportiva como o carro-chefe nos últimos anos. Mas a sala de troféus ainda é motivo de muito orgulho para os mauaenses e o atual presidente. Os diretores chegaram a elaborar um projeto para a construção de um estádio na área da sede, mas o plano nunca saiu do papel.

Com dívidas da ordem de R$ 6 milhões junto a Receita Federal, os diretores lutam para reverter o quadro de inadimplência, já que dos 10 mil associados, apenas 500 estão em dia. Os eventos sociais encampam hoje, a maior parte das atividades.

Altair, bi-campeão mundial, saiu da base

O Mauá revelou também craques para grandes equipes, como o ex-lateral e zagueiro Altair Gomes de Figueiredo, que integrou a Seleção Brasileira bicampeã do mundo de 1962, no Chile. Nascido em Niterói, ele passou pelas divisões de base do clube até chegar ao Fluminense, que o projetou para o futebol nacional. Lateral de boa técnica, era um ótimo marcador e dificilmente perdia uma dividida, apesar de seu corpo magro em relação à altura.

Campeão Mundial em 1962, no Chile, lateral Altair se formou nas divisões de base do clube
Campeão Mundial em 1962, no Chile, lateral Altair se formou nas divisões de base do clube

No Mauá, ainda adolescente, atuava como quarto zagueiro. Indicado para fazer testes no Fluminense, optou por jogar na lateral esquerda porque apenas nesse setor havia vaga no time. E foi atuando por ali que se firmou como um dos grandes laterais esquerdos da história do Fluminense, tendo jogado 551 jogos por este clube entre 1956 e 1971. O atleta foi foi campeão carioca em 1959, 1964 e 1969; do Torneio Rio-São Paulo de 1957 e 1960; e da Taça Guanabara em 1966 e 1969. Pela Seleção Brasileira, além de campeão mundial no Chile, conquistou também as edições da Taça Bernardo O’Higgins em 1959, 1961 e 1962. Terminou sua carreira jogando apenas pelo clube do coração e até hoje mora em Niterói, no Barreto.

“Me sinto orgulhoso de ter sido revelado num clube de São Gonçalo, um histórico “celeiro” de grandes jogadores. Torço para que a cidade consiga projetar num futuro próximo, um clube de futebol, que seja referência para a multiplicação de talentos e também o surgimento de novos torcedores”, afirmou o ex-atleta, que hoje tem 77 anos.

Alberto Goldstein já foi goleiro
Alberto Goldstein já foi goleiro

Outro que se recorda dos bons tempos do Mauá é o ex-quarto zagueiro Nélio Nardi, de 65 anos, que começou nas divisões de base do clube na década de 60, e por mais de dez anos, defendeu a equipe gonçalense. Acostumado a ganhar títulos nos juvenis, Nélio se recorda de um jogo considerado marcante, em 1976, quando o Mauá conquistou o tricampeonato em um jogo muito disputado com o Unidos do Porto da Pedra, no estádio do Manufatora, no Barreto. “O nosso ceotroavante, Adilson, não era da equipe titular, mas entrou e conseguiu marcar o único gol que nos deu a vitória”, declarou.

O atual presidente do Mauá, Alberto Moritz Goldstein, chegou a defender o clube, como goleiro, nas décadas de 50 e 60.

Leia amanhã: Porto da Pedra - do futebol ao samba

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