Mauá: de clube operário á referência no esporte em São Gonçalo

No início da década de 1960, o Mauá conquistou o tricampeonato da Liga Gonçalense, já jogando no atual campo da Avenida Presidente Kennedy, no Centro de São Gonçalo.
Foto: DivulgaçãoPor Ari Lopes, Sérgio Soares e Gustavo Aguiar
De simples agremiação criada para o lazer de operários de uma indústria de cimento, o clube Esportivo Mauá (CEM) virou referência para o esporte gonçalense. E o futebol não poderia deixar de ser uma das marcas registradas do ‘Tricolor’. Mesmo mantendo o futebol como uma modalidade amadora e de âmbito regional, o Mauá, ao longo de 77 anos de existência, fez história e fama com a conquista de vários títulos e a projeção de craques, como o lateral direito Altair, um dos integrantes da Seleção Brasileira bi-campeã mundial no Chile, em 1962.
Os operários que fundaram o clube, em 8 de agosto de 1937, trabalhavam na Companhia Nacional de Cimento Portland (CNCP) que tinha núcleos em São José, Itaboraí, e em Guaxindiba, na região rural de São Gonçalo. As peladas nas horas de folga foram a inspiração para a criação da agremiação, na sede do sindicato da Indústria de Cimento, Cal e Gesso, na Rua Doutor Nilo Peçanha, no Centro de São Gonçalo.
A publicação “Mauá”, um livro aberto, sobre a história do clube e escrito por membros do Departamento de Relações públicas da entidade, mostra que ele recebeu inicialmente o nome de Incor, alusivo a uma das marcas de cimento fabricados pela CNPC. Naquele bairro foi montada a primeira sede e o campo de futebol, erguidos numa área próxima, na antiga Fazenda dos Arcos.
Os primeiros sete anos do Incor foram difíceis porque a empresa não dava nenhum tipo de ajuda, apesar de operários da fábrica serem os diretores do clube. O Incor estava prestes a falir quando um grupo de dirigentes decidiu entregar à administração a interventores do alto escalão da empresa. A parceria começou a ganhar corpo com a doação de uma verba de 500 mil cruzeiros para investimentos. Foi feita uma mudança dos estatutos e a agremiação ganhou o nome de Clube Esportivo Mauá, registrado no Cartório do 1º Ofício de São Gonçalo, em 9 de outubro de 1944.
E nesse processo, o clube ganhou ‘raízes’ em uma área de 21 mil metros, comprada na Avenida Presidente Kennedy, no Centro de SG, onde até hoje existe a atual sede. A Praça de Esportes foi inaugurada no dia 10 de junho de 1945, uma data especial. Na ocasião, em um jogo entre Mauá e Radiante Futebol Clube, pela Terceira Divisão da Liga Gonçalense, foi conquistado o primeiro título pela equipe.
Com a chegada de Flávio Laranja, um aficionado pelos esportes, o clube “decolou” de vez no futebol, vencendo cinco campeonatos juvenis: 1945, 1946, 1947, 1949 e 1950. Além do futebol, o basquete, o tênis de mesa e o ciclismo passavam a figurar também entre as principais modalidades.
Rivalidade - Aos poucos, o Mauá deixava de ser um clube de empregados de uma fábrica para representar a sociedade gonçalense, equiparando-se ao Tamoio, outro “gigante” da cidade em ordem de grandeza. “Se eles realizavam um grande projeto, procurávamos fazer outro mais grandioso ainda”, revelou o atual presidente do Mauá, Alberto Moritz Goldstein.

Tricampeonato e emancipação
A partir do fim da década de 50, o Mauá não parou de cescer. Em novembro de 1959, era inaugurada a nova sede, o Palácio Social, em evento que reuniu representantes de setores organizados da sociedade e mereceu destaque na imprensa. O tricampeonato municipal, nos anos de 1962, 1963 e 1964, mostrou o poderio dos tricolores no futebol gonçalense. Um ano mais tarde, veio a emancipação da CPNC. O clube passou a aceitar novos associados e recebeu também da empresa todas toda área da sede para para continuar as atividades.
Entre 1974 e 1978, o Mauá incorporou o Nacional Atlético Clube, trazendo com este um novo elenco, onde, logo na primeira temporada, sagrou-se campeão sobre o Unidos do Porto da Pedra na emocionante final de 1976. A partir da década de 80, já sob a gestão do atual presidente, Alberto Moritz Goldstein, passou por amplo processo de modernização, com ampliação da área da sede e a construção de um ginásio. Criadas pela a atual gestão, a Malha e o Handebol deram títulos de projeção nacional ao clube.

As dificuldades em conseguir parcerias fizeram com que o Mauá deixasse a área esportiva como o carro-chefe nos últimos anos. Mas a sala de troféus ainda é motivo de muito orgulho para os mauaenses e o atual presidente. Os diretores chegaram a elaborar um projeto para a construção de um estádio na área da sede, mas o plano nunca saiu do papel.
Com dívidas da ordem de R$ 6 milhões junto a Receita Federal, os diretores lutam para reverter o quadro de inadimplência, já que dos 10 mil associados, apenas 500 estão em dia. Os eventos sociais encampam hoje, a maior parte das atividades.
Altair, bi-campeão mundial, saiu da base
O Mauá revelou também craques para grandes equipes, como o ex-lateral e zagueiro Altair Gomes de Figueiredo, que integrou a Seleção Brasileira bicampeã do mundo de 1962, no Chile. Nascido em Niterói, ele passou pelas divisões de base do clube até chegar ao Fluminense, que o projetou para o futebol nacional. Lateral de boa técnica, era um ótimo marcador e dificilmente perdia uma dividida, apesar de seu corpo magro em relação à altura.

No Mauá, ainda adolescente, atuava como quarto zagueiro. Indicado para fazer testes no Fluminense, optou por jogar na lateral esquerda porque apenas nesse setor havia vaga no time. E foi atuando por ali que se firmou como um dos grandes laterais esquerdos da história do Fluminense, tendo jogado 551 jogos por este clube entre 1956 e 1971. O atleta foi foi campeão carioca em 1959, 1964 e 1969; do Torneio Rio-São Paulo de 1957 e 1960; e da Taça Guanabara em 1966 e 1969. Pela Seleção Brasileira, além de campeão mundial no Chile, conquistou também as edições da Taça Bernardo O’Higgins em 1959, 1961 e 1962. Terminou sua carreira jogando apenas pelo clube do coração e até hoje mora em Niterói, no Barreto.
“Me sinto orgulhoso de ter sido revelado num clube de São Gonçalo, um histórico “celeiro” de grandes jogadores. Torço para que a cidade consiga projetar num futuro próximo, um clube de futebol, que seja referência para a multiplicação de talentos e também o surgimento de novos torcedores”, afirmou o ex-atleta, que hoje tem 77 anos.

Outro que se recorda dos bons tempos do Mauá é o ex-quarto zagueiro Nélio Nardi, de 65 anos, que começou nas divisões de base do clube na década de 60, e por mais de dez anos, defendeu a equipe gonçalense. Acostumado a ganhar títulos nos juvenis, Nélio se recorda de um jogo considerado marcante, em 1976, quando o Mauá conquistou o tricampeonato em um jogo muito disputado com o Unidos do Porto da Pedra, no estádio do Manufatora, no Barreto. “O nosso ceotroavante, Adilson, não era da equipe titular, mas entrou e conseguiu marcar o único gol que nos deu a vitória”, declarou.
O atual presidente do Mauá, Alberto Moritz Goldstein, chegou a defender o clube, como goleiro, nas décadas de 50 e 60.
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