Grupo ‘Crente que joga’ tem futebol de nível profissional

Campo society com gramado bem cuidado, refletores potentes e a lua cheia perfeitamente localizada sobre os jogadores compõem o cenário perfeito de mais uma noite de pelada, desta vez em Camboinhas, Região Oceânica de Niterói.
O local é o Centro de Treinamento RB5, do hoje ex-atleta Roberto Brum. O dia é segunda-feira, para começar a semana já no pique. Há quatro anos, jogadores que já foram profissionais do futebol e amigos peladeiros do grupo “Crente que joga” se reúnem semanalmente a partir das 20h para disputar uma pelada no esquema de futebol de sete. Em campo, a brincadeira rola solta, mas a organização pode ser considerada de nível profissional. Antes de rolar a bola, é formada uma roda para a oração. Mas quem tiver afim de jogar precisa chegar cedo para garantir o nome na lista, que conta com mensalistas e visitantes. E a disputa é acirrada: há quem chegue no início da tarde para não perder a oportunidade, nem que seja para dar um pulo em casa e depois voltar. Como em toda regra, uma exceção para o professor Gustavo Aliaga, mais conhecido como Argentino, de 43 anos. Por ter um horário de trabalho apertado, ele é o único que tem vaga cativa na equipe mesmo chegando no horário bem próximo de início do jogo. Há 20 anos no Brasil, o “argentino” que se diz metade tricolor - por influência do avô - e metade torcedor do Boca Juniors é um daqueles que não perdem a pelada por nada. Questionado sobre quem joga mais, ele ou o Roberto Brum, dá uma resposta rápida. “O Roberto, com certeza, estou aqui para aprender com ele!”, brinca. E no time não falta gente de personalidade. Entre membros e visitantes, nomes de peso como Índio, Luiz Alberto, Jorge Luis, Luiz Pacheco, Jucilei e Fábio Augusto completam a lista de quem já passou pelo “Crente que joga”. Vice-presidente e técnico do Gonçalense Futebol Clube, Thiago Thomaz não apenas faz parte do grupo, como também o considera um celeiro de atletas para o seu time. Foi dali que ele descobriu o Roni, meia do Gonçalense. Feliz trocadilho - O grupo, unido e versátil - com jogadores de 14 a 59 anos - tem um motivo nobre de existir, segundo Roberto Brum. “Começou a partir do desejo do jardineiro do prédio que eu morava, o Silvinho, há quatro anos. Ele ficou um tempão pedindo que eu fizesse um futebol com amigos. Então, quando eu estava parando já de jogar, organizei uma partida e chamei ele. De lá para cá não paramos mais”, relembra o jogador.
Entre festas, jogos, churrascos, o grupo também tem lembranças emocionadas. “Também já fizemos funerais nesse tempo de existência do grupo. O próprio Silvinho, jovem, de 20 e poucos anos, veio a óbito indo para o trabalho, em acidente de moto. A família disse que os meses mais felizes da vida dele tinham sido esses últimos em que ele fez parte desse grupo, pois realizou o sonho de atuar com jogadores profissionais. Foi muito forte ouvir isso daquela família”, recordou o ex-atleta e agora empresário, que já jogou em grandes times como Coritiba, Fluminense e Santos.
Sobre o nome curioso do grupo, outra brincadeira.
“Ou o cara é crente, pois crê em Deus e joga bola. Ou ele é crente que joga bem alguma coisa. Ficou um duplo sentido. O nome pegou e ficou”, explicou.