Fluminense marca 'golaço' contra a homofobia em jogo contra Corinthians
Partida aconteceu no Estádio de São Januário, e terminou empatada. Gol do Fluminense foi marcado por Cazares aos 25 minutos do segundo tempo

A partida entre Fluminense e Corinthians, no último domingo (27), no Estádio São Januário, pela sexta rodada do Brasileirão, terminou em 1 a 1, com gols de Cazares (Fluminense) e Jô (Corinthians).
Com o resultado, o Fluminense subiu para a 8ª posição, com 10 pontos, e o Corinthians segue em 10° lugar na competição, com 9 pontos. O próximo jogo do Flu será na quarta-feira (30), às 16h, contra o Athletico-PR, em Volta Redonda. Já o Corinthians enfrenta o São Paulo, às 21h30 do mesmo dia, na Arena Corinthians.
Esse texto é o que resume a partida dentro de campo, mas fora das quatro linhas, como há pouco mais de dois anos, o Fluminense volta a fazer história.
No dia 12 de fevereiro de 2019, o Vasco derrotou o Fluminense por 1 a 0, na disputa da decisão da Taça Guanabara. Logo depois da partida, o volante vascaíno Fellipe Bastos postou um vídeo com conteúdo homofóbico contra os tricolores nas redes sociais: "time de veados" foi um dos termos usados pelo atleta vascaíno.
Desde então, o Fluminense tem marcado posição e por meio de suas redes sociais, vem desenvolvendo a campanha "TimeDeTodos", contra a homofobia: "O país onde mais se assassina LGBTs no mundo não pode deixar uma demonstração tão clara de preconceito morrer". O Tricolor conseguiu transformar uma expressão homofóbica numa bandeira.
Neste domingo, o Fluminense reforçou sua postura ao entrar em campo com os números nas cores da bandeira LGBTQI+. "O 'TimeDeTodos' trata da luta contra o machismo, porque o futebol é um ambiente machista. Também do racismo, da homofobia. O Fluminense é um time aberto a todos. Nós queremos cada vez mais mulheres nas arquibancada. Queremos que as pessoas que sejam tricolores e amem o Fluminense estejam no estádio. Não importa a cor, o sexo, a religião dela. Isso traduz exatamente o que é. O Fluminense abraça todo mundo", diz o gerente de marketing Tricolor, Lucas Sodré.
Nas arquibancadas do Maracanã, as torcidas adversárias contam a história de que um atleta negro do Fluminense, Carlos Alberto, costumava usar talco para embranquecer a pele, desde que atuava no América, nos anos de 1910. O 'talco' usado na entrada do time no Maracanã virou 'pó de arroz' e ganhou conotações homofóbicas.
Para o professor de História UFRJ, Fernando Castro, em entrevista ao portal Globo Esporte, o Fluminense era um clube que prezava a 'fidalguia', num esporte onde essa atitude não era bem aceita entre os aficionados pelo 'esporte bretão'.
Na entrevista ao Globo Esporte, ele chega a citar que a mudança das cores do uniforme do Fluminense, de cinza e branco para as três cores (verde, branco e grená) ajudou a criar o estigma de time "colorido" no imaginário popular.
Após a partida contra o Corinthians pelo Brasileirão, as camisas utilizadas pelo elenco foram autografadas e serão leiloadas. O lucro obtido com será destinado ao Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT, uma organização não-governamental que busca a melhoria da qualidade de vida dessa comunidade.
"O Fluminense é um dos times que mais sofreu com esse rótulo. Assim como o São Paulo é chamado de bambis. O futebol é um espaço tradicionalmente homofóbico e serve de exemplo para a sociedade entender que não existe mais espaço para a homofobia. Só olhar para a Eurocopa, o que aconteceu com a Hungria, a resposta das seleções. No Brasil, partir de clubes tradicionais é fundamental. O Fluminense está invertendo um preconceito que ele sofre e transforma em algo positivo. Ele chama a atenção para a luta dos movimentos por um espaço igualitário na sociedade", afirma o historiador Daniel Cohen.