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Eles fazem História: Provedor de sonhos, Vitor Quintan deixa sua marca na vida de jovens através da educação

Em entrevista a O SÃO GONÇALO, na série "Eles fazem história", o professor Vitor Quintan relembra sua trajetória na formação de jovens rumo à Universidade

relogio min de leitura | Escrito por Lívia Mendonça | 19 de setembro de 2024 - 08:00
Vitor Quintan segue mudando vidas através da educação
Vitor Quintan segue mudando vidas através da educação -

Com a correria do dia a dia e o "modo automático" ligado durante as diversas situações que acontecem no cotidiano, alguns detalhes podem passar despercebidos, como um bom atendimento, uma gentileza, uma ação positiva, um olhar carinhoso e, principalmente, a relação empática que um ser humano pode construir para com o seu semelhante. Pensando nisso, O SÃO GONÇALO dá continuidade à série de reportagens sob o título: "Eles fazem História", que ressalta, valoriza e enaltece gonçalenses que fazem parte da vida e, literalmente, da história da população.

VITOR QUINTAN OU "VITOR PRÉ-VESTIBULAR" - A educação como ato de revolução 

Popularmente conhecido como "Vitor Pré-Vestibular" ou "VP", Vitor Quintan nasceu em São Gonçalo, em 1978. Casado, pai de duas filhas e criado no município onde passou grande parte de sua vida, Vitor, assim como muitos, via a "vida acadêmica" como algo distante. Em sua família, apenas sua mãe havia concluído a graduação, enquanto seu pai nem terminou o ensino médio.

O que Vitor não imaginava é que, desde a adolescência, cada passo que dava o levaria a uma missão completamente ligada à educação, transformando não só a sua vida, mas também a de centenas de jovens.

Em entrevista ao O SÃO GONÇALO, o professor e criador do renomado curso preparatório para vestibulares, que já aprovou inúmeros jovens na região, falou sobre sua formação, a paixão pela educação que corre em suas veias e o propósito de compartilhar conhecimento, ajudando a realizar sonhos.

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O primeiro "encanto" com a educação 

Aos 15 anos, Vitor Quintan foi levado pelo tio para conhecer um professor chamado Assis, que tinha um curso preparatório de vestibular, onde dava aula de todas as disciplinas.

"Aquilo me encantou muito, mesmo sendo tão jovem. Foi uma experiência bem interessante", contou.

Um ano depois, enquanto estava no terceiro ano do ensino médio, na escola, Vitor decidiu que também faria o curso de pré-vestibular de Assis, que ficava localizado no bairro Icaraí, em Niterói.

"Em 1995, passei para a UFF em Administração de Empresas e comecei a cursar. As coisas estavam indo razoavelmente bem, mas o meu pai 'quebrou', e quando ele 'quebrou' a grana ficou muito escassa. Então comecei a dar aula particular para conseguir dinheiro para as coisas da faculdade, como passagem, xerox, etc.", explicou Vitor.

"E aí as coisas começaram a funcionar assim, as pessoas perguntavam: 'Você dá aula de Física? Química Orgânica? Biologia?' E eu respondia que sim. Passava a noite estudando e dava a aula. E assim fui me encantando por esse universo. Costumo dizer que se você um dia ensinou algo para alguém e essa pessoa disse 'Ah, entendi', você é professor. 'Do quê' você é professor, você pode ainda não saber, mas dê um jeito de dar aula, porque de alguma forma isso te encanta", completou.

Seu lugar no mundo 

"Mas, tão certo quanto o erro de ser barco a motor e insistir em usar os remos, é o mal que a água faz, quando se afoga"

Vitor Quintan continuou dando aulas e se sustentando durante a graduação em Administração, mas, a partir desse momento, também surgiram oportunidades para trabalhar em grandes empresas.

"Eu percebi que não era aquilo que eu queria. Eu tinha outras vontades, outros desejos e interesses e comecei a pensar na possibilidade de largar aquilo tudo para dar aula. Foi nessa hora que fui conversar com os meus chefes e, como diz a frase que costumo usar: 'Eu sou barco a motor, não vou usar remo, vou me arriscar.' E aí resolvi largar tudo, aos 19 anos, sem ter a menor ideia de que aquilo iria dar certo", contou Vitor.

Mesmo sem apoio e incentivo, Vitor tomou a decisão que mudaria sua vida para sempre.

"Pensa só, um maluco de 19 anos de idade resolve dar aula para entrar na universidade, no bairro da Trindade, em São Gonçalo, numa época em que a cidade não tinha McDonald's, não tinha shopping. Era um caos, a chance daquele projeto dar certo era muito pequena", disse.

Vitor Pré-vestibular

Jovem, cheio de sonhos, convicções e incertezas sobre o que aquilo tudo iria resultar, Vitor abriu seu curso em sua própria casa, no dia 12 de julho de 1997, em um sábado, às 8h30, com apenas três alunos na sala de aula.

"Meu pai perguntou: quanto tempo você precisa para saber se esse projeto vai dar certo? E eu disse: 10 anos. E comecei", afirmou.

Com o passar dos anos, o curso, que funcionava aos sábados durante todo o dia e aos domingos pela manhã, cresceu consideravelmente em número de alunos, mas não proporcionalmente ao retorno financeiro, visto que o professor, desde o início, tem como marca do curso preparatório o fornecimento de bolsas de estudo.

"Eu tinha muitos alunos, mas não tinha dinheiro, e foi assim durante muito tempo. Cheguei até a adoecer no caminho, pela exaustão e estresse de trabalho. Mas, em 2006, decidi que não dava mais. Reuni meus amigos e contei que precisava encontrar outra coisa para fazer, então pensei em ir levando o curso só até o ano seguinte, enquanto estudava e pensava numa nova profissão", explicou o professor.

A surpresa veio justamente no ano "limite": 2007. O curso passou a dar retorno, e Vitor saiu do "roxo" para o "vermelho", decidindo arriscar e permanecer por mais um ano. Foi aí que, em 2008, o pré-vestibular "bombou".

"O VP tem essa mania de querer ver a gente na universidade"

"Dez anos haviam se passado desde a inauguração. Começaram a chegar alunos com maior poder aquisitivo, e o curso teve uma escalada de crescimento muito bacana. Foi nessa época que surgiram algumas iniciativas, como o preparatório para o Colégio Pedro II e o 'VP Medic'. Também fui assumindo outras frentes de trabalho, e o curso foi ficando muito conhecido na cidade", explicou Vitor Quintan.

Para a moradora de São Gonçalo e estudante do 1º período de Psicologia da UFRJ, Adriely Copque Lima de Amorim, de 19 anos, a motivação obtida no período em que passou pelo VP fez toda a diferença no processo de estudos para a entrada na tão sonhada universidade.

"O Vitor Pré-Vestibular me proporcionou muitas alegrias, entre elas a minha tão sonhada vaga na universidade. Desde as pessoas que nos recepcionam até os que nos acompanham em sala, todos desempenham cada função com muito amor e dedicação. Ter tido um professor tão engajado e apaixonado por essa causa fez toda a diferença para mim. A gente fica mais motivado, e o aprendizado flui de maneira leve e natural. A sensibilidade dele para com os alunos permitia momentos de conversas que aliviavam tamanha pressão. Esse gesto é muito significativo. Ele é muito mais que um professor, é também um amigo. Sou extremamente grata por fazer parte da família VP e posso afirmar que amadureci em todos os aspectos possíveis durante minha caminhada lá. O VP tem essa mania de querer ver a gente na universidade", afirmou a estudante.

Adriely Copque
Adriely Copque |  Foto: Divulgação

Do "boom" às surpresas na área da saúde 

"Se fosse para morrer, ia morrer fazendo o que eu gosto"

No auge da visibilidade conquistada através de um trabalho de qualidade, o curso vivenciou grandes momentos, como eventos: Flash Mob, passeio ciclístico, participação no programa da jornalista e apresentadora Fátima Bernardes, participação no TED (maior evento de palestras do mundo), capas de jornal, entre outros. Porém, como um "balde de água fria", chegou a pandemia da COVID-19.

Alunos do curso pré-vestibular de Vitor Quintan
Alunos do curso pré-vestibular de Vitor Quintan |  Foto: Divulgação

"A pandemia foi uma paulada para quem era do universo da educação, foi bem cruel com a gente, e eu optei por não me arriscar. Por mais que alguns cursos tivessem mantido o trabalho meio que 'clandestino', eu optei por não fazer isso. Não queria nenhuma preocupação do tipo biográfica, de olhar no futuro e falar 'meu Deus, algum professor meu pegou a doença por minha causa e algum familiar dele morreu'. Eu não queria esse tipo de culpa, então entramos em recesso no dia 13 de março de 2020", explicou Vitor, que completou:

"Uma semana depois, já estávamos no online, com tudo rodando, mas de fato fomos perdendo muitos alunos, até porque somos uma escola de pré-vestibular, e naquele momento as pessoas não estavam tão preocupadas em entrar na universidade. E aí foi um caos: cancelar contrato com outras empresas, demitir colaboradores, professores. Foi um momento realmente muito delicado."

Além do "baque" com a pandemia mundial, que atingiu em cheio a área da educação, Vitor descobriu um câncer raro e complexo no ano de 2022. Mas, enquanto se preparava para realizar a cirurgia, decidiu se abastecer de seu maior "remédio": a educação. 

"Precisei fazer uma cirurgia grande, deu bastante trabalho, mas quando descobri que estava doente, o pré-vestibular já estava no online, e eu falei que voltaria para dar aula, porque se fosse para morrer, ia morrer fazendo o que eu gosto. Então, em 2023, depois de um tempo de repouso e enquanto fazia os trâmites para passar pela cirurgia, voltei a trabalhar", contou o professor.

Na época do processo de enfrentamento à doença, três médicos que passaram pelo pré-vestibular ficaram na "retaguarda", dando todo o auxílio, apoio e suporte, não só profissional, mas principalmente pessoal, que Vitor tanto precisava.

"Poder contar com três médicos que passaram pelo VP naquele momento foi muito gratificante", declarou.

Provedor de sonhos 

"O curso continua cumprindo a sua função"

Vitor Quintan classifica o ano pós-pandemia como um "marco", o "ano zero", ano em que o VP voltou a crescer e se restabelecer diante do novo momento da modalidade presencial.

"Nesse pós-pandemia, o curso vem crescendo novamente, dadas as estruturas e o contexto nacional da educação. Hoje, o curso tem uma modalidade presencial e também online, com um crescente número de estudantes. O número de aprovações, que havia caído durante a pandemia, voltou a crescer, e temos, em média, 70% de aprovação, principalmente para carreiras difíceis e concorridas, o que é muito legal. O curso continua cumprindo sua função", contou o professor.

Imagem ilustrativa da imagem Eles fazem História: Provedor de sonhos, Vitor Quintan deixa sua marca na vida de jovens através da educação

"O VP não é um curso social, mas ele tem uma função social, e esse é o motivo das bolsas. Em todos os sentidos, o VP é pensado para os grupos que ele abraça: os ricos, os pobres da cidade e das demais localidades que chegam até nós", completou.

Como uma grande missão, Vitor Quintan acredita que o curso nasceu e permaneceu até os dias de hoje como uma forma relevante de contribuir para o desenvolvimento da cidade, podendo até mesmo romper as barreiras territoriais e fazer a diferença na educação do país como um todo.

Ele faz história 

Professor de matemática, física, química, biologia, história, geografia, filosofia, sociologia, linguagens e soft skills (habilidades emocionais - estratégias de prova, estratégias de estudo para os alunos), Quintan se refere aos estudos como um "ato de revolução".

"É difícil mensurar o quão grande foi o impacto do Vitor e do pré-vestibular na minha trajetória até finalmente conquistar a aprovação em medicina. Eu cheguei lá no meio de 2022 e entrei pela porta sem acreditar em mim mesmo, sem ter a menor projeção de que conseguiria. Achei que estava indo para lá só para ter mais uma reprovação, só para poder decretar que o meu sonho estava frustrado, pois eu já havia feito duas provas do ENEM e não conseguia nem chegar perto da aprovação", contou Leandro Bastos Junior, 21 anos, estudante do 1º período de medicina da UNIRIO.

Leandro Bastos, estudante de medicina
Leandro Bastos, estudante de medicina |  Foto: Divulgação

"Entrar por aquela porta fez a minha vida mudar para sempre. Lá eu aprendi a ter mais autoconfiança, aprendi métodos de aprendizagem, aprendi pontualidade, persistência e realmente mudar como estudante e como pessoa. As coisas que o Vitor fala na sala de aula, as lições de vida que ele dá, os ensinamentos de autoconhecimento e autoaperfeiçoamento você não encontra em outro lugar. A gratidão que eu sinto pelo Vitor é gigantesca. Sou eternamente grato a tudo que ele e o pré-vestibular dele me proporcionaram. Eles, de certa forma, mudaram a trajetória da minha vida", completou o estudante.

De acordo com o Censo da Educação Superior de 2022, apenas 20% dos jovens de 18 a 24 anos têm acesso à universidade no Brasil.

Apesar da expansão das políticas de inclusão, o acesso ao ensino superior brasileiro ainda está restrito a uma parcela pequena da população. Dados levantados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2019, demonstram que somente cerca de 20% da população entre 25 e 34 anos possui um diploma de nível superior no País. De acordo com o mesmo levantamento, 40% dos ingressantes em universidades, em 2019, pertenciam aos 20% da população com maior poder econômico. No mesmo ano, só 5% pertenciam aos 20% mais pobres da população.

Sendo a mudança que quer ver no mundo, o professor Vitor Quintan segue sendo um impulsionador da educação, um facilitador de trajetórias que compartilha conhecimento através de uma personalidade altruísta, empática, humilde e gentil.

"Para quem nasceu sem recursos, estudar é um ato de revolução, e é para isso que o VP prepara a galera, para um ato de revolução. É transcender, ir além. Eu costumo dizer que preparo estudantes para que sejam pontos de inflexão (ponto em que uma curva muda de sentido), para que daqui a quatro, cinco, seis gerações, alguém possa perguntar 'em que momento a gente enriqueceu?' e a resposta seja 'foi com o biso, a bisa', e esses terem sido meus alunos. Então lá no ano de 2100, 2200, poder ver que houve um ponto de inflexão de crescimento intelectual, profissional e financeiro de uma família, e isso tendo começado com um estudante que resolveu dizer 'eu vou entrar para a universidade'", declarou Vitor Quintan, que é também escritor e autor de três livros: "Reinvente-se", "Ainda vale a pena?" e "O que acontece depois da morte?".

Vitor com seu livro "Reinvente-se", publicado em 2016
Vitor com seu livro "Reinvente-se", publicado em 2016 |  Foto: Layla Mussi

Um exemplo dessa "inflexão" é o ex-aluno do VP, Vitor Sousa de Paula, 30 anos, formado em Engenharia Mecânica pela UERJ e hoje trabalhando como Engenheiro Pleno de Manutenção e Projetos.

"A dedicação e compromisso do professor Vitor Quintan com a educação foram determinantes para que eu pudesse alcançar os objetivos que me propus. Hoje atuo como engenheiro de projetos pleno, com a responsabilidade de coordenar projetos em mais de 21 usinas siderúrgicas no Brasil, além de ter tido a oportunidade de liderar três projetos internacionais na Argentina, Alemanha e Canadá", contou o profissional, que estudou no VP no ano de 2012.

"A contribuição do professor Vitor na minha trajetória é inestimável. Os valores e conhecimentos que adquiri sob seus ensinamentos continuam a guiar minhas decisões e ações, tanto na vida profissional quanto pessoal. Agradeço por tudo e sei que o sucesso que alcancei é, em grande parte, reflexo do seu empenho e dedicação", concluiu Vitor Sousa.

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