Coletivo de São Gonçalo trabalha para preservar a história e fomentar a cultura na Fazenda Engenho Novo
Movimento tem viés popular e lutam pela construção de um museu na localidade

Por Rennan Rebello
O que não falta em São Gonçalo é história e potencial para fomentar o turismo histórico-cultural no munícipio, e partindo desta visão, surgiu um coletivo na sociedade civil gonçalense intitulado como Movimento Ocupa Fazenda do Engenho Novo (OcupaFEN), que visa em resgatar a história de um espaço histórico do século XVIII, além de empreender na antiga propriedade de Belarmino Ricardo de Siqueira, o Barão de São Gonçalo; um museu como forma de movimentar a localidade, situada na área rural afastada da zona central da cidade, que carece de iniciativas deste porte.
"O Movimento Ocupa Fazenda do Engenho Novo tem viés popular voltado ao resgate histórico, humanitário e cultural deste patrimônio que é, inegavelmente, um dos maiores monumentos material e imaterial da história de São Gonçalo e, porque não dizer, do Brasil: a Fazenda do Engenho Novo do Retiro, localizada no bairro de Monjolos. No entanto, as ruínas da Fazenda estão cada vez mais se deteriorando sem qualquer intervenção visível do poder estatal. O OcupaFEN surge no ano de 2019 com a intenção de ocupar e preservar este patrimônio da nossa cidade. Deste modo, partimos do princípio de que o ato de ocupar sem se tornar donos é demarcar um território rico de memórias, vivencias, histórias, costumes e de toda uma cultura de época, deixando para as gerações futuras um legado conciso dos fatos ocorridos, ou seja, uma herança do passado, que não é só um conjunto daquilo que existiu no passado, mas uma escolha realizada pelos atores daquele período e pelos que se dedicam a estudar tais histórias", explicou a professora de História, Daiana Santiago, que também é coordenadora do projeto.
O coletivo também conta em sua composição com outros profissionais que se dedicam a causa, como a assistente social Daniele Gonçalves Fontoura (idealizadora do OcupaFEN); além dos pesquisadores: Juliana Duarte, Victor da Costa Santos, Naila Regina Martins, Aretha Salles e Rhaiane das Graças Leal. O assistente social Marcelo Iname Monção também participa da empreitada histórico-cultural que trabalhou bastante ao longo de 2020 com pesquisas que servem como base para planos mais audaciosos no local.
"Atualmente, estamos trabalhando na coleta de dados e pesquisa histórica da Fazenda Engenho Novo, entrevistando personagens caros a memória da Fazenda, sitiantes, antigos donos e resgatando a história de todos os atores sociais que compuseram a Fazenda Engenho Novo desde sua criação até os dias atuais. Nós objetivamos a construção do “Museu Histórico e Cultural da Fazenda Engenho Novo” que tem o propósito de preservar a cultura histórica material e imaterial da Fazenda Engenho Novo, em São Gonçalo. E o legado que vislumbramos para este trabalho consiste na revitalização do espaço com a oferta de projetos sociais, para aquela área envolvendo Educação, Esporte e Lazer para os moradores da comunidade, estudantes, e turistas do município. Nós escolhemos a Fazenda Engenho novo devido a sua relevância histórica, uma vez que o local foi construído no século XVIII e esteve em funcionamento até o século XIX. Foi um dos locais de visita da família Imperial do Segundo Reinado, e o maior centro produtor de cana de açúcar e laranja do Estado do Rio de Janeiro. Não obstante ao estado de conservação do monumento, a arquitetura histórica da fazenda é expressiva e atrativa, o local foi sede da segunda corrida automobilística do Rio de Janeiro, e ainda serviu de cenário para as gravações do filme “Álbum de Família” (1945), de Nelson Rodrigues. Em 1998 a notoriedade do monumento enquanto legado histórico de São Gonçalo foi concedido, pois as ruínas da fazenda foram tombadas pelo Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Cultural, com objetivo de preservar parte da construção dos espaços da Casa Grande-Senzala.", disse Daiana que recentemente, junto com sua colega Naila, participaram de um curso ofertado pelo Programa das Nações Unidas (PNUD) referente aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que compõe a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) tendo como metas diversas ações para erradicar a pobreza, promover vida digna e a sustentabilidade.
"No curso ODS, nos ensinam a valorizar o meio ambiente, a fomentar a cultura local, desenvolver o saber de cada indivíduo. Por exemplo, alguns ODS, serão de grande valia. Como o número 4: "Educação de qualidade", onde estamos buscando uma atuação em educação diferenciada a partir da historial cultural da Fazenda do Engenho Novo. Assim como o ODS 17: "Parceiras e meios de implementação", pontuou.

Apesar da aceitação de moradores da região, como o do professor de Educação Física, Renan de Souza, que é contramestre de Capoeira, os ativistas querem atrair pessoas de outros lugares como visitantes. Mas para isso, precisam do auxílio do Poder Público das esferas municipal, estadual e federal para atender demandas básicas para que este plano seja bem sucedido, como explicou Daiana à reportagem.
"A Fazenda Engenho Novo está situada na área rural de São Gonçalo, em relação ao poder público local e municipal consideramos que as questões voltadas a criminalidade estão acontecendo em todo o município, inclusive nesta área, então estaremos articulando junto ao Poder Público municipal que as medidas de segurança cabíveis possam ser tomadas para assegurar todo o processo de trabalho que será realizado junto aquele espaço. Já em âmbito do Estado, fizemos esta semana uma reunião com o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC) que, foi o órgão responsável pelo tombamento do conjunto arquitetônico e paisagístico da Fazenda Engenho Novo, em 1998. Nós apresentamos o nosso projeto de reconstrução da Fazenda Engenho Novo. O encontro foi positivo e o OcupaFEN foi legitimado enquanto movimento para restauração do patrimônio da cultura material e imaterial de São Gonçalo. Em paralelo a isso, temos una reunião marcada com o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro (ITERJ), órgão estadual responsável pelas últimas obras emergenciais da Fazenda. E a nível Federal, também pediremos apoio com base nos órgãos criadores e técnicos de museus: o IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus)", dissertou a historiadora que também espera dialogar com a iniciativa privada.
"Neste sentido também queremos ter parceria com empresas privadas além das públicas, pois, as ruínas da Fazenda Engenho Novo estão cada vez mais se deteriorando, outro problema atual do patrimônio são os furtos recorrentes a alvenaria da Fazenda. Estes furtos praticados por “ladrões de relíquias” ou por indivíduos desconhecedores da importância de se conservar a estrutura física do local têm sido denunciados constantemente pelos moradores, valorosos guardiões da memória da Fazenda, que se desesperam ao ver um espaço que era tão lindo e rico, desgastando se dia após dia", finalizou.
Para quem quiser saber mais sobre o Movimento Ocupa Fazenda do Engenho Novo ou queira entrar em contato com o coletivo. Basta entrar em contato através do Instagram: @fazenda_engenhonovo. O perfil é sempre atualizado com novidades sobre o projeto histórico-cultural.