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Busão das Artes chega a São Gonçalo com a exposição 'Lixúria'

Mostra gratuita fica na Praça Zé Garoto entre os dias 26 e 28 de novembro

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 26 de novembro de 2025 - 11:46
Exposição Lixúria
Exposição Lixúria -

Um museu sobre rodas que espelha a sociedade e se camufla no espaço urbano. Assim é a nova temporada do Busão das Artes, um caminhão-baú de 15 metros que se transforma em espaço expositivo e viaja o Brasil. Com curadoria e direção artística de Marcello Dantas, o projeto apresenta a exposição “Lixúria”, uma jornada sensorial que une arte e educação ambiental. Com entrada gratuita, a mostra fica na Praça Estefânia de Carvalho (Zé Garoto), de 26 a 28 de novembro, das 10h às 17h.

O projeto oferece atividades abertas ao público em geral e uma programação especial para escolas públicas e privadas. Com patrocínio da Enel Rio e Sotreq, o Busão das Artes integra a programação cultural promovida pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro em comemoração a COP30, realizada no Brasil em 2025.

A imersão começa com o próprio caminhão, que foi revestido com película espelhada que reflete o entorno, quase desaparecendo no espaço e tornando-se um espelho crítico da sociedade. Além disso, o espaço se divide em ambientes interno e externo, concebidos para provocar e surpreender o público, especialmente crianças e adolescentes, com experiências lúdicas e sensoriais.

“O lixo é um espelho do nosso comportamento. Quando olhamos para o que descartamos, enxergamos quem somos como sociedade. A ideia da exposição “Lixúria” é justamente tornar esse espelho visível e provocar reflexão sobre nossos hábitos de consumo e descarte. Cada pessoa gera, em média, até 28 toneladas de lixo ao longo da vida. É um dado brutal, mas que precisa ser encarado. Se até um bebê, nas primeiras semanas de vida, já produz uma quantidade considerável de resíduos, precisamos repensar coletivamente o destino de tudo o que descartamos. O lixo não desaparece. Ele se acumula, se transforma e, também, pode ser ferramenta de educação e cidadania. Queremos tirar o lixo “debaixo do tapete” e colocá-lo no centro do debate, da arte e da curiosidade. O que parece rejeito, na verdade, carrega histórias, potencial criativo e até beleza”, explica o curador Marcello Dantas.

Imagem ilustrativa da imagem Busão das Artes chega a São Gonçalo com a exposição 'Lixúria'

Ao adentrar o Busão, o visitante se depara com a cenografia marcante de um patchwork de embalagens revestindo as paredes e o teto, construído a partir de lixo limpo como tampinhas, embalagens tetrapak, pacotes e plásticos diversos. Também, a obra Marat (Sebastião), da série Pictures of Garbage, de Vik Muniz, produzida a partir de seu projeto com os catadores do aterro sanitário Jardim Gramacho, da cidade do Rio de Janeiro, estará exposta.

Nesse espaço, o filme Ilha das Flores (1989), de Jorge Furtado, é exibido em looping, convidando o público a repensar desigualdade, consumo e destino do lixo. O visitante também encontra duas estações interativas: uma balança que calcula, em quilos, a quantidade de lixo que cada pessoa produzirá ao longo da vida (uma experiência que busca dar o peso concreto do impacto individual), e um mapa digital, via Google Earth, com informações sobre os lixões, aterros sanitários e pontos de coleta das cidades visitadas.

Do lado de fora, a experiência continua. Espalhadas ao redor do caminhão, latas de lixo galvanizado com tampas guardam surpresas que se revelam ao serem abertas pelos visitantes. Dentro delas, o público encontra obras de arte dos artistas Sueli Isaka, Guto Lacaz, Sandra Lapage, Pirilampos do Planeta (Lula Duffrayer e Flávio Carvalho), Tomazicabral, Nazareno, Jessica Mein, Karola Braga, Coopa Roca, Janaina Mello Landini e Adrianna Eu, compostas por objetos inventivos criados a partir de resíduos e personagens simbólicos como o “Bicho de Lixo”. Algumas das obras também acionam efeitos sonoros, visuais ou mecânicos.

No mesmo ambiente, a obra “Marca Temporária, Memória Coletiva”, do artista Alexandre Farto aka Vhils, propõe uma intervenção colaborativa com o público. Em cada parada, uma grande tela negra perfurada é posicionada sobre o chão claro, revelando, por contraste, uma imagem previamente desenhada. Essa superfície urbana servirá como suporte vivo da arte, construída a partir de materiais naturais encontrados no próprio local, como areia, pedras, ou ervas secas, recolhidos em parceria com a comunidade local. Esses materiais são aplicados sobre a tela para formar a imagem. O processo ativa o entorno, valoriza os recursos do lugar e estimula o engajamento coletivo na criação artística. Ao final, a tela é retirada, deixando no chão a marca efêmera da obra, que desaparece com o tempo, mas permanece na memória de quem participou.

“Esta exposição convida o público a reconfigurar seu olhar sobre o lixo. Temos de reaprender a ver no que é descartado uma potência criativa, simbólica e transformadora”, frisa o curador.

A experiência traz práticas educativas coordenadas pela Percebe, uma consultoria especializada em educativos de museus e exposições, que promovem encontros significativos entre os públicos e as obras, por meio de visitas mediadas, oficinas e propostas interativas. O atendimento será voltado tanto para grupos escolares agendados quanto para o público espontâneo, com abordagens adaptadas a diferentes faixas etárias e perfis de interesse.

Com o objetivo de estender a experiência para além do espaço expositivo, a mostra também conta com materiais de apoio educacional destinados a professores, que estarão disponíveis para download no site e poderão ser enviados às escolas. Também, os estudantes que visitarem a exposição receberão um material impresso com propostas de atividades que estimulam a reflexão e a criação. Esses conteúdos possibilitam que a vivência se prolongue na escola e em casa, fortalecendo a construção de significados e os vínculos entre arte, educação e ambiente no cotidiano.

A exposição Lixúria dá continuidade a uma trajetória já consolidada de exposições itinerantes promovidas pelo Busão das Artes, sucedendo os projetos “A Casa que Anda – que mistérios tem Clarice?”, que levou ao público uma experiência sensorial inspirada na obra infantojuvenil da escritora Clarice Lispector, e “O mundo invisível”, concebido no contexto pós-pandêmico, que abordava de forma lúdica e educativa o universo dos fungos, vírus e bactérias. Trata-se de um projeto de educação gratuito, inclusivo e democrático, idealizado por Renata Lima, da Das Lima Produções, em parceria com a dupla Lilian Pieroni e Luciana Levacov, da Carioca DNA.

Ao longo do semestre, o Busão das Artes já passou por Rondônia (Porto Velho), Tocantins (Palmas), Ceará (Fortaleza) e Rio de Janeiro (Petrópolis, Rio de Janeiro e Niterói). Após São Gonçalo, passará por Macaé, Cabo Frio, Resende e Paraty. A expectativa é que mais de 130 mil pessoas passem pelo Busão nessa temporada.

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