'Tá dominado!' Depois de rodar o mundo, funkeiro de São Gonçalo volta a sonhar com os palcos
Cantor do hit 'Bonecão do Posto' relembra o auge da carreira

Quem viveu o auge do funk nos anos 2000, com certeza já dançou ao som de “Bonecão do Posto”, repetindo o refrão e imitando os movimentos desengonçados do boneco inflável mais famoso do país. Nas matinês de sábado à tarde, nos programas de auditório e até nas academias, o hit embalava uma geração inteira. Por trás da voz marcante do sucesso estava Sandro, integrante da dupla SDBoys, que dominava as paradas com seu carisma e o batidão inconfundível.
Hoje, mais de duas décadas depois, Sandro Silva de Souza, de 53 anos, trocou o palco pelo volante: é motorista de lotada no Centro de São Gonçalo. Mas isso pode estar perto de mudar.
Afastado dos palcos e da mídia, o homem por trás do hit Bonecão do Posto — e de vinhetas clássicas dos programas da Xuxa nos anos 1990 — voltou aos holofotes graças a um vídeo publicado pela filha nas redes sociais. A música, lançada há 25 anos, viralizou novamente entre crianças da nova geração e já soma muito mais de dois milhões de visualizações em poucos dias.

Sandro é cria do Porto do Rosa, em São Gonçalo. Começou a carreira no funk no início dos anos 90, e logo estourou com sucessos. Em 1994, a parceria com Marlene Mattos o levou para os bastidores do programa da Xuxa, onde criou vinhetas que depois viraram hits, como “Tá dominado”, “Popozuda” e o próprio “Bonecão do Posto”.
“Eu já era da noite, dos bailes funk. Sabia como fazer música curta, com impacto. A Marlene me disse: ‘Se você fizer uma música boa, eu boto no programa’. Eu fiz. E explodiu. Foi parar no Maracanã, na torcida do Flamengo”, lembra Sandro, emocionado.
Além do sucesso na televisão brasileira, ele rodou o mundo: fez turnês nos Estados Unidos, Europa, Japão e em países africanos como Nigéria, Angola e África do Sul. Chegou a cantar em quatro aniversários de Nelson Mandela.

Mas o auge teve fim em 2008. A perda dos pais em um intervalo de seis meses abalou a saúde mental do artista, que se viu endividado e acumulando quase R$ 120 mil em pensões. “Eu estava sem fazer shows, mas um DJ fez uma montagem com uma música minha e isso virou minha vida de pernas para o ar. Porque acharam que eu estava com dinheiro, mas não estava. Aí acumulei dívida de pensão e outras coisas. Não me via pedindo. Sou cria da rua, então fui atrás de trabalho. Virei motorista. Precisei reconstruir minha vida e tô aqui, pagando todos os acordos de pensão. Já paguei quase todos os atrasados”, conta, com orgulho de estar cumprindo com o direito dos filhos.

Durante os anos de silêncio artístico, Sandro pagou as dívidas com acordos judiciais, muito esforço e sorriso no rosto. Figura constante no ponto de lotadas, quem entra em seu carro sabe que a viagem será embalada com músicas e memórias de um passado cheio de fama e histórias para contar.
E foram essas memórias que inspiraram a filha mais velha de Sandro a usar uma rede social, no dia do aniversário dele, para contar que o pai havia sido muito famoso nos anos 90 e 2000 e que hoje leva uma vida simples com trabalho informal.
A postagem gerou uma onda de saudade na galera 30+ e atingiu milhares de seguidores, até que furou a bolha. Uma madrinha mostrou o hit Bonecão do Posto para duas crianças, que se encantaram e foram mostrar para o pai. O homem, que não conhecia a música, achou engraçado e postou o vídeo. Viralizou.
Sandro voltou a ser assunto nas redes sociais, as músicas voltaram a ser cantaroladas e ele vive um período de esperança de voltar a viver da sua arte.
“Deus tá me dando uma nova chance, através de duas crianças que nem tinham nascido quando eu lancei essa música. E da minha filha, que acreditou. Se isso não é presente, eu não sei o que é.”
Hoje, Sandro não esconde a emoção. E torce para que essa onda nostálgica abra caminho para o renascimento do seu projeto artístico. “O Sandro artista nasceu em 91, cresceu até 94 com a Xuxa, brilhou até 2008… e agora, em 2025, pode estar renascendo.”