Casal em Vista Alegre comemora 71 anos de casamento
Norma e Jayme contam história de união que já dura mais de sete décadas

“71 anos. É muito tempo para um aturar o outro”, é como responde Norma Tobler, de 91 anos, quando perguntada sobre seu recém-comemorado aniversário de casamento. “É sinal de que está dando certo”, complementa seu marido Jayme de Oliveira, de 94. Mais do que um sinal, o casal de moradores do bairro Vista Alegre, em São Gonçalo, é um exemplo de um matrimônio que realmente segue dando certo todos os dias há mais de sete décadas.
As Bodas de Zinco foram completadas no último dia 8 de dezembro, data em que os dois oficializaram a união em 1951, ainda bem jovens à época. “Éramos bem novos, naquele tempo casava-se assim. E não tínhamos juízo. Se fosse hoje em dia, primeiro íamos conhecer um ao outro”, comenta Dona Norma.
Mesmo “sem juízo”, eles sempre levaram a sério o compromisso, e assim conseguiram uma união não só duradoura como bem estável, sem muitos estresses. Com exceção de um ou outro desentendimento rápido aqui e ali, eles explicam que nunca tiveram uma briga muito grande e sempre se deram bem.

“Nunca tivemos problemas. Ela sempre foi muito cuidadosa, e tem uma boa cabeça”, elogia Seu Jayme. Sua esposa responde o carinho: “Não é por ser meu marido, mas ele é inteligente, trabalhador e honesto. Esses três predicados ele tem, não nego”.
Pais de três filhas - Fátima, Telma e Irene -, o casal também esteve junto, por muitos anos, durante o trabalho. Jayme trabalhou por bastante tempo como mecânico com uma oficina que ficava logo atrás do posto de combustível gerido por Norma. Foi para trabalhar no antigo Posto Girassol que a família, originalmente de Magé, veio a São Gonçalo.
Como administradora da estação de combustível, Dona Norma foi uma das precursoras na gestão feminina de empresas no município. “As únicas famílias que tinham mulheres que trabalhavam fora e se destacavam na cidade eram a família Porto, com a dona Nilda do cartório em Alcântara, a Salgado de Oliveira, com a dona Marlene do colégio, e nossa família, com mamãe no posto”, se orgulha a filha mais nova, Irene Tobler, de 59 anos.

A vida de pioneira não era fácil. “Dei um duro danado, trabalhei um bocado. Saía sempre às 6h e voltava só tarde da noite. Eu trabalhava no posto mas não ficava só no escritório não, metia a mão na bomba”, ela rememora. Apesar dos sufocos, a rotina de trabalho é umas das coisas de que mais sente falta. “Eu gostava muito de trabalhar. Acho que parei cedo, hoje penso que eu aguentava trabalhar por mais tempo”.
Enquanto ela cuidava do posto, Jayme era pioneiro em outra área do mesmo setor. Por anos, ele foi um dos poucos mecânicos na região a realizar o serviço de converter veículos abastecidos por gasolina para receberem óleo diesel. “Foram 61 caminhões convertidos”, estima o aposentado.
“Já trabalhei muito. Hoje, não posso mais, não tenho mais força para isso. Agora, é maneirar”, afirma, rindo, seu Jayme, que não se incomoda da rotina mais quieta e tranquila que a idade trouxe. Sua esposa, por sua vez, também não reclama da velhice, mas parece um pouco mais disposta a explorar com o máximo de energia seus dias de ‘noventona’.
“Eu ando para todo lado. Saio, dirijo meu carro, vou lá no sítio em Cachoeiras de Macacu”, ela conta, enquanto caminha para um canto da sala de estar à procura do álbum com fotos do sítio. Se agacha, abre portas de armário, não para enquanto não encontra os registros, com o olhar irrequieto como o de uma jovem curiosa.
Fotos antigas, aliás, são o que não faltam na pacata residência dos Tobler-Oliveira. Há cópias de vários dos grandes momentos da família. Só as fotos do casamento é que faltam mesmo. “Não tem fotografia do casamento, só tem foto do bolo. O irmão dele tinha uma padaria e fazia bolos de noiva. Aí no casamento, fotografou o bolo e mandou fazer um monte de cópias para dar aos outros. Nós mesmos não tínhamos foto, mas eu peguei as fotos dos bolos e rasguei elas todas depois”, relembra Norma.

Quem escuta com bastante frequência as animadas histórias da vida do casal é Rosemar Pereira, que trabalha como doméstica na casa deles há 30 anos. “A rotina com eles é divertida”, ela comenta. Para Dona Norma, Rosemar “é uma filha mais nova minha aqui”. É ela que ajuda a senhora na sua atividade favorita do dia-a-dia: cuidar das plantas, árvores e flores do extenso quintal no imóvel.
Se tem outra coisa, para além da família e da trajetória no posto, da qual Norma se orgulha, é de seu jardim e de seus ‘pés-de-fruta’. De manga e limão a cambucá e sapoti, seu espaço verde tem “tudo quanto é tipo de fruta”. “Só não tem mais porque não tem dinheiro para comprar tudo”, ela justifica.
E assim vive o casal, hoje colhendo os frutos de seu matrimônio e do compromisso que investiram um no outro através da união. Na visão deles, a vida a dois não tem segredo; a chave está em se entender e respeitar. Para Seu Jayme, o que faz os casamentos mais antigos durarem é “respeitar mais um ao outro, ter mais cuidado um com o outro, com a vida”.
Dona Norma concorda, e acrescenta: “Meu conselho para os jovens é se conhecerem bem, ver se o modo de pensar é parecido”. No fim das contas, parece consenso entre ambos que, parecendo-se ou não, o jeito é deixar de lado as discussões e “pegar firme”, como dizem, nas coisas que importam na vida.