Carnaval de Niterói em livro

Por Dayse Alvarenga e Matheus Merlim

As lembranças do Carnaval em Niterói entre as décadas de 1940 e 80, que repousam apenas em fotografias em preto e branco ou na memória de sambistas antigos, ganharão pela primeira vez um registro oficial em formato de livro. A ideia partiu de quatro jovens - dois professores e dois estudantes de História - com o objetivo de trazer ao conhecimento do público grandes marcos do samba niteroiense que contribuíram diretamente para a identidade cultural da “Cidade Sorriso” dos dias atuais.

Você sabia, por exemplo, que a ideia de uma Passarela do Samba, como a famosa Marquês de Sapucaí, foi desenvolvida inicialmente para Niterói? Que as escolas de samba niteroienses são pioneiras quando o assunto é homenagem a grandes ídolos? Estes foram algumas das muitas descobertas da pesquisa realizada por Leandro Silveira, de 32 anos, Winnie Delmar, 21, Matheus Tavares Viug, 20, e Sthephanie Antero, 19, para o desenvolvimento do projeto.

Professor de História e pesquisador da UFF, Leandro conta que, embora o senso comum diga que a memória seja algo descartável, é de extrema importância resgatar a história para conhecer o local onde se habita.

“O Carnaval de Niterói desde a origem, na década de 40, ainda é uma relíquia escondida. É importante lembrar que a folia da cidade resistiu a grandes tragédias, como enchentes e até ao incêndio do Circo Norte-Americano em 1969, e mesmo assim as escolas se reinventavam a cada ano, com uma criatividade inigualável”, contou Leandro.

A co-autora Winnie Delmar ressalta também a importância da publicação por uma relação afetiva com o Carnaval de Niterói. Nascida e criada na Acadêmicos do Cubango, a jovem passou da ala mirim ao posto de terceira porta-bandeira.

“Sou filha do Carnaval, me formei professora e sempre quis pesquisar mais sobre a história dos desfiles do município. Minha monografia foi sobre a Cubango entre a década de 70 e 80, mas foi muito difícil encontrar arquivos para ler. Este livro será oficialmente o primeiro sobre a história do Carnaval desde 1946”, argumentou Winnie.

O projeto ainda está em fase de pesquisa, entrevistas e recolhimento de fotografias e artigos que possam contribuir para entender os fatos. Assim sendo, não foi definido ainda o nome da publicação. Os autores pedem que se alguém tiver alguma foto de um dos desfiles entre 1946 e 1986, pode entrar em contato pelo e-mail projeto.carnaval@hotmail.com.

A publicação será editada pela Fundação de Artes de Niterói (FAN) e deve ser lançada em fevereiro de 2016.

Sambódromo original

O primeiro município do Estado a planejar um local específico aos desfiles das escolas de samba foi Niterói. Ao contrário do que muitos pensam, o projeto intitulado “Sambópolis” foi posto em prática antes mesmo do famoso Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no centro do Rio.

Construído em estrutura de ferro, o projeto foi adaptado para levar o Carnaval, que acontecia na Avenida Amaral Peixoto, principal rua do Centro, para onde hoje é conhecido como “Caminho Niemeyer”. A ideia, no entanto, não agradou os sambistas da época.

De acordo com Leandro Silveira, o Sambópolis só foi utilizado por quatro anos, de 1979 a 1983. No ano seguinte, a cidade do Rio inaugurou o Sambódromo, em estrutura de concreto, cuja autoria é do arquiteto Oscar Niemeyer.

A volta dos desfiles à Amaral Peixoto, entretanto, não foi definitiva. Hoje, as agremiações realizam seu Carnaval na Rua da Conceição, também no Centro.