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Milícia pode estar envolvida em mais de 50 mortes em São Gonçalo

Número foi mencionado durante escutas telefônicas

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 25 de setembro de 2018 - 06:30
Integrantes dos grupos de milicianos usavam tacos de basebol para torturar as vítimas
Integrantes dos grupos de milicianos usavam tacos de basebol para torturar as vítimas -

Por Renata Sena

Cem mil reais por mês e mais de cinquenta homicídios. Esse seria o lucro e o número de execuções ordenadas e realizadas pelos integrantes dos dois grupos de milicianos que atuam em São Gonçalo e foram alvos de prisão da Operação Gerais, na manhã de ontem, articulada por agentes da Divisão de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo.

A ação contou com apoio do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO/MPRJ), e da Corregedoria da Polícia Militar. O grupo de milicianos que atua em Maricá, e é controlado por um PM, também foi desarticulado.

Durante a ação, a polícia cumpriu 18 mandados de prisão preventiva, sendo três dos acusados também presos em flagrante. A polícia também cumpriu 52 mandados de busca e apreensão, apreendeu dois carros clonados, dez armas, cofres, equipamentos de ‘gatonet’ e cobrança das taxas ilegais.

Os líderes das três milícias foram presos na ação. Anderson Cabral Pereira, Vulgo Sassa, já estava detido em Bangu 9, de onde continuava a controlar seu grupo através de ligações telefônicas. O líder da segunda milícia é, de acordo com a polícia, Luis Claudio Freires da Silva, vulgo Zado, que foi preso na manhã de ontem, em sua casa. E o terceiro ‘chefão’, segundo as investigações, é Wainer Teixeira Júnior, policial militar, que cumpriu prisão domiciliar pela Operação Calabar, onde dezenas de PM foram presos acusados de corrupção. Ele foi detido novamente na manhã de ontem.

O objetivo principal da operação era desarticular as três milícias, que apesar de ter comandos distintos, possuíam integrantes com atuação em mais de uma delas, como os executores, que prestavam ‘serviço’ de matar os desafetos para os três líderes.

Grupos dominam diferentes bairros da região - 
O grupo liderado por Anderson Cabral Pereira, o  Sassa, tem atuação nos bairros de Porto Velho, Porto Novo, Pontal e adjacências, em São Gonçalo. A segunda milícia, chefiada por Luis Claudio Freires da Silva, o Zado, atua nos bairros Engenho Pequeno, Zumbi e adjacências, também em São Gonçalo. O último grupo de milicianos investigados é comandado por Wainer Teixeira Júnior, com domínio nos bairros de Itaipuaçu e Inoã, em Maricá.


A investigação apurou que os grupos agem com violência, uso de armas de fogo e prática de homicídios, como modo de disseminar o temor e exercer o domínio sob a população local. Para expandir o domínio territorial, contam com o apoio de policiais corruptos. As atividades desempenhadas como fonte de arrecadação nas áreas dominadas são típicas das milícias: exploração de “segurança” clandestina a comerciantes, controle sob a venda de botijões de gás e cestas básicas, venda de cigarros contrabandeados, exploração da venda de serviço clandestino de internet e TV a cabo, entre outras.


“As pessoas, muitas vezes, tem a imagem de milicianos como homens que limpavam a área, matavam somente os bandidos. Mas não é o que acontece. Milicianos destroem famílias inteiras, cobram taxas exorbitantes e usam de força para impor o que estipula como regra”, explicou o promotor Sérgio Lopes.


Acusado ainda está foragido - 
Entre os principais integrantes da milícia comandada por Sassa aparece Rodrigo de Oliveira Silva, vulgo Negão, que permanece foragido e é apontado como ‘braço direito’ do líder. Também têm destaque na organização Felipe Raoni da Silva, vulgo Mineirinho, preso pela DH em fevereiro. 


No caso da milícia dominada por Zado, aparece ao lado dele Gerson Batista Junior, vulgo Gecinho. Neste grupo, consta como braço operacional Adriano Silveira da Rosa, vulgo Vaco, André Silveira da Rosa, vulgo Chaveirinho, entre outros criminosos.


Já a milícia liderada por Wainer tinha entre seus integrantes Francisco Ribeiro Soares Junior, Vulgo Chicão, que também segue foragido; Luiz Carlos Pereira de Melo, vulgo Russo; Lucas dos Santos Costa, vulgo Luquinha; e João Paulo Firmino – este último apontado como autor da chacina de Marica, onde cinco jovens foram executados num condomínio do programa Minha Casa Minha Vida, em Itaipuaçu, em 25 de março deste ano. Os jovens, apontados como meros usuários de entorpecentes, teriam sido assassinados com o simples propósito de afirmar o poder e espalhar o terror entre moradores e comerciantes da localidade.


Grupo agia com muita violência - 
Com base em interceptações telefônicas autorizadas pela justiça, o núcleo de inteligência da especializada constatou que Mineirinho prestava serviço para dois grupos criminosos, já identificados. Segundo as investigações, os grupos ingressavam no território a partir do assassinato de traficantes de drogas ou assaltantes e assumiam o domínio do local alegando que iriam trazer paz e tranquilidade aos comerciantes e moradores.


Em uma das escutas, transcritas no site de OSG, Sassa ordena que seus comparsas quebrem o carro de um pastor, que estava com o aluguel da igreja, imóvel que era de traficantes e que foi ocupada pela milícia, atrasado. Em outro trecho Sassa avisa que o pastor tem sete dias para deixar o imóvel e ameaça caso a ordem não seja cumprida. 


Em outra escuta Sassa diz que quer assumir a segurança de um condomínio do Minha Casa Minha Vida e Chicão diz que para isso, vão precisar do apoio de um ‘vereador amigo’. 


Segundo a polícia, após assumirem o controle do território, o que chamavam de “ganho de chão”, os milicianos faziam o “aumento da folha”, iniciando a cobrança de “taxa de segurança”. Os valores eram cobrados de acordo com o tipo de negócio, podendo chegar até R$12 mil por estabelecimento.


Polícia pede que a população colabore - 
Até a tarde de ontem, seis acusados alvos da operação permaneciam foragidos. A polícia destaca a importância da população em denunciar a localização dos suspeitos e pede que qualquer informação seja encaminhada ao Disque Denuncia.


“Uma estratégia muito importante é que com a desarticulação desses grupos de extermínio, que tem ligação direta com diversos homicídios. A gente consegue diminuir as taxas de homicídios e elucidar diversos deles”, explicou Bárbara Lomba, titular da Divisão de Homicídios e responsável pela operação.

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