Milicianos seriam autores de atentado em Nova Cidade

Por Thuany Dossares e Renata Sena

O pequeno Isaac Augusto da Silva, de apenas dois anos, foi ferido, na noite de segunda-feira, na rua da casa onde morava, em Nova Cidade, São Gonçalo, quando estava no colo do pai, o administrador Luciano Conceição da Silva, de 28 anos. O pai foi atingido por disparos e acabou morrendo. O tio deles, o aposentado Luiz da Boa Morte Augusto, de 58 anos, também foi vítima de uma bala perdida na varanda de casa, mas não resistiu ao ferimento. Além deles, os tiros acertaram Ferret Damasceno Lessa, 20, que era amigo da família e morreu no local.

A Polícia investiga a possibilidade de as vítimas terem sido mortas por engano por milicianos que procuravam no local grupos rivais de traficantes de drogas. De acordo com a apuração da Divisão de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo (DHNISG), onde o caso foi registrado, dois homens chegaram armados com pistolas num carro prata, na Rua União, e abordaram Luciano e Ferret. Os homens teriam perguntado a eles onde estavam as drogas e, em seguida, atiraram diversas vezes.

Ferret foi executado na calçada. Luiz estava na varanda de casa e acabou sendo atingido por uma bala perdida, mas não resistiu. Pai e filho foram socorridos por familiares para a Unidade Municipal de Pronto Atendimento (UMPA) de Nova Cidade, mas Luciano veio a óbito. Isaac foi transferido para o Hospital Estadual Alberto Torres (Heat) e seu estado é estável.

Vítimas foram atingidas com tiros de pistola

A perícia técnica da DHNISG constatou que todos foram atingidos por tiros de pistola calibre 380. No local, os agentes apreenderam cinco estojos e um projétil deflagrado desse mesmo calibre. A principal linha de investigação é a de que o crime tenha sido cometido por milicianos.

"O Luciano e Ferret seriam os alvos dos bandidos. A criança e o senhor foram erros de execução mesmo, vítimas de bala perdida. O estojo era de 380 mas com uma característica peculiar. Normalmente os estojos costumam ser todos dourados e esses eram dourados por dentro e prata por fora, o que indicam uma fabricação diferenciada. Os autores estavam bem arrumados. Parece ser a atuação de milícia. Mas isso ainda é nossa apuração preliminar", explicou a delegada Bárbara Lomba, responsável pelas investigações. 

O irmão de Luiz, Carlos Rosembergue Augusto, de 42 anos, contou que Luciano e o aposentado moravam no mesmo quintal e lamentou a morte dos familiares.

"Não sei como tudo aconteceu, mas não tenho como explicar, o que falar, só espero justiça e o conforto de Deus para mim e para minha família. Meu irmão sempre foi um homem trabalhador, estava sentado na varanda e chegaram atirando. O Luciano era marido da nossa sobrinha e também sempre foi trabalhador. Por sorte não atingiu mais ninguém. É um quintal de família, tinha mais pessoas no momento, todos reunidos por causa do calor, conversando", desabafou Carlos.

O pai de Ferret, o mecânico Francisco José Pereira Lessa, 56, disse que o filho estava em casa, que fica a 300 metros do local do fato, quando Luciano o chamou para sair. Segundo Francisco, o filho já trabalhou como técnico de instalação da SKY, mas estava desempregado há oito meses. 

"Eles dois eram amigos. O Luciano o chamou e ele foi lá para frente da casa do Luciano. Tenho três filhos, mas nenhum substitui o outro. Eu estou morto também. Está muito difícil. Meu coração de pai está destruído", lamentou o mecênico.

Bebê

Isaac foi atingido apenas por estilhaços no abdômen e encontra-se internado em estado estável no Heat.

Criminosos podem ter feito outra execução

Pouco tempo depois de serem acionados para os homicídios em Nova Cidade, policiais da DHNISG foram chamados para apurarem o assassinato de Rafael Ramos de Araújo, de 27 anos, na Rua Minas Gerais, no bairro Brasilândia, também em São Gonçalo.

O que chamou a atenção dos agentes durante a perícia foi que no local, foram arrecadados três estojos e fragmento de chumbo de pistola calibre 380 com as mesmas características do crime que vitimou a família. 

"Estamos trabalhando para confirmar se os dois crimes foram cometidos pelos mesmos autores. Ainda não temos como afirmar, mas é possível. Há características em comum. Nossas equipes recolheram imagens de câmeras de segurança que podem ter flagrado o assassinato. Vamos ver se batem com o depoimento que colhemos das testemunhas do primeiro local, para ver se foram realmente os mesmos autores. Também vamos apurar se o Rafael tem alguma relação com o Ferret e o Luciano", esclareceu a delegada Bárbara Lomba.