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Lembranças do Tetra

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 19 de julho de 2016 - 15:33
Lembro-me bem que, na data de hoje, há 32 anos, minha casa estava cheia. A sala não cabia mais ninguém. Era um falatório, uma animação e uma ansiedade de que não se dava conta. O verde e amarelo ornamentava o ambiente. Todos juntos, com bandeiras, bandeirinhas e cornetas, vestindo a camisa do canarinho, esperavam o grande momento: assistir à final da Copa do Mundo de 1984. Nesta época, o Brasil já tinha conquistado seu primeiro campeonato na Suécia em 1958. A sensacional vitória de 5 a 2 contra a seleção do país sede, placar jamais visto numa decisão de Copa do Mundo, lavou a alma dos brasileiros, tirando-lhes um enorme peso das costas, graças às duras lembranças da triste derrota para os uruguaios na Copa realizada no Brasil oito anos antes. 
No Chile, a seleção canarinho supera a ausência de Pelé e conquista, com autoridade, o bicampeonato, com espetáculo particular de Garrincha, o mago das pernas tortas, figura principal da Copa de 1962. O tricampeonato veio em 1970, no México quando, em plena ditadura, cantávamos “Vamos juntos, vamos, pra frente Brasil, salve a seleção”.  Para muitos, foi a melhor seleção que o Brasil já teve. Passes precisos, chutes poderosos, jogadas mágicas, defesas sensacionais. Embora abafados pelo regime de exceção, pudemos abrir os pulmões e gritar à vontade. À época, era a alegria que nos restava. O motivo não só permitia a efusão popular, como aliviava um pouco os acontecimentos políticos. Com o “tri”, veio para casa, de quebra, em definitivo, a taça Jules Rimet que, para nossa tristeza, não só pela taça, mas pela repercussão mundial do ato, foi roubada e derretida. 
Mas eu estava na minha casa com muitos parentes e amigos naquele 17 de julho de 1984, quando o Brasil disputaria com a Itália o título de tetracampeão mundial. Ambas as seleções já eram tricampeãs e apenas uma sairia dali, naquele dia, ostentando o título, ainda inédito no mundo: tetracampeão de futebol. Sediada pelos Estados Unidos, foi a primeira Copa do Mundo de Futebol realizada no país. Quando foi escolhido para sediar o evento, ninguém imaginava o sucesso que ia ser, já que os Estados Unidos não tinham nenhuma tradição no esporte. No entanto, foi o mundial que bateu todos os recordes de público. A Copa do Mundo foi aberta no estádio Soldier Field, em Chicago.
Naquele ano, o Brasil saiu daqui desacreditado, graças à péssima campanha que fez nas eliminatórias. No entanto, com um futebol eficiente e um grupo unido, foi superando suas dificuldades e  jogando um futebol burocrático, mas competente no seu sistema de marcação e obediência tática. Tinha os atacantes Bebeto e Romário como sua principal arma. E funcionou.  O jogo teve início e nós iniciamos, naquele momento, o processo de um verdadeiro sofrimento por 110 completos minutos. O jogo acabou num empate de 0 a 0 nos 90 minutos regulares e assim continuou na prorrogação. Chegou a hora dos pênaltis. Cada chute na bola era um chute no nosso coração, seguido, ou da alegria de um grito de “Gooool!” ou de um “Uhhh” de decepção.
Finalmente, o Brasil superou a Itália, ganhando a disputa por 3 a 2. O país recuperava a coroa, depois de 24 anos, conquistando o tetra, fato somente igualado em 2006 pela Itália e em 2014 pela Alemanha, quando o Brasil já era pentacampeão, conquista obtida em 2002, na primeira Copa sediada em território asiático.
Após 1958, o time brasileiro começou a carregar, a cada quatro anos, além do sonho do mundial, o da medalha olímpica. No entanto, a cada edição dos jogos, este sonho se desvanecia. Em 1984, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, a mudança de regras a respeito dos atletas que poderiam disputar os jogos - somente aqueles que não tivessem atuado em campeonatos mundiais - fez com que se dissolvesse a seleção brasileira já convocada. Mesmo assim, a equipe trouxe para casa, a prata, primeira medalha olímpica do futebol. 
Em Seul, ficamos outra vez com a prata. Em Atlanta, o sonho do ouro brasileiro estava vivíssimo, mas o que veio foi o bronze. Ganhamos outro bronze em Pequim e outra prata na última Olimpíada, em Londres. Neste ano, será que o ouro vem? Não importa. O jeito é continuar tentando e seguir as sábias palavras do idealizador das Olimpíadas Modernas, o Barão Pierre de Coubertin. “O importante não é vencer, mas competir. E com dignidade”.

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