Megaoperação: por que Calabar?

Os nomes das operações das polícias Civil e Federal sempre chamam a atenção. A megaoperação deflagrada na manhã desta quinta-feira (27), por agentes da Divisão de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo (DHNISG), foi batizada de Operação Calabar e tem como objetivo cumprir 97 mandados de prisão contra policiais do 7ºBPM (São Gonçalo) acusados de receber propina de traficantes de São Gonçalo. 

O nome foi inspirado em Domingos Fernandes Calabar, alagoano de Porto Calvo, a 96 km da capital Maceió, e nascido em 1609, fruto de um relacionamento de uma índia e um português. Aliado dos holandeses que invadiram o nordeste, Calabar é tido como o maior traidor da história brasileira. 

Ainda jovem, Calabar se ofereceu como voluntário ao capitão-mor Matias de Albuquerque, que lutava contra a invasão holandesa no Recife, capital da então Capitania de Pernambuco. Vivendo num tempo racista, aristocrático e conservador, a pele morena, herdada da mãe, era um problema. e sem ter seu "valor" reconhecido, Calabar foi se frustrando e deixou as fileiras portuguesas para ajudar os holandeses na batalha pela colonização brasileira. 

O capitão Matias conseguiu prender Calabar, que foi estrangulado e esquartejado em praça pública, sendo enterrado alguns dias depois pelos companheiros holandeses.  

O jornalista e historiador alagoano Romeu de Avelar foi o primeiro a escrever sobre Calabar. O livro, lançado em 1938, contesta a ideia de que ele tenha sido um traidor, e na época do lançamento foi considerado subversivo, tendo sido apreendido pelas autoridades e reeditado em 1937. Chico Buarque também escreveu sobre Domingos, na peça de teatro "Calabar: o Elogio da Traição".