Uma pelada ‘entre nós’

Por Cyntia Fonseca, Elena Wesley e Matheus Merlim

Amizade e descontração são as palavras de ordem que regem os 16 anos de existência do grupo Entre Nós, formado por amigos de Niterói e São Gonçalo. “Vamos organizar uma pelada entre nós? Vamos!”. Foi mais ou menos assim que pais de alunos da Escolinha de Futebol Solar das Crianças, no campo Shangrilá, em Tribobó, se reuniram para organizar a primeira pelada, 1999.

O ‘Entre Nós’ tem atualmente 54 componentes, em sua maioria pais de alunos e ex-alunos da escolinha. Há quatro anos jogando no Campo do Califórnia, no Morro do Castro, eles se encontram religiosamente todos os domingos, nas primeiras horas da manhã. Existe, inclusive, uma fila de espera de interessados em entrar para o time, já que a regra manda que é preciso aguardar um antigo sair.

“Marcamos às 6h30 para tomar o café da manhã e a bola rola às 7h, pontualmente”, conta Elcir, 54, o Pelé, um dos fundadores do grupo, que depois de ‘pendurar prematuramente as chuteiras’, depois de uma grave contusão, se tornou o árbitro oficial das peladas.

Dirigido por uma comissão de oito componentes, o grupo conta com um estatuto, cujas regras são levadas a sério por todos os membros. Uma delas fala sobre a ordem de escalação: entram em campo os primeiros 22 jogadores que chegarem e estiverem em dia com a mensalidade, de R$ 35. Os atletas atrasados só têm vez no segundo tempo.

“O valor da contribuição é para pagar o campo, manter o material, como uniformes, remédios e ainda fazermos caixa para a confraternização de final de ano. No fim do jogo sempre fazemos também algum tira-gosto para reunir o grupo para a resenha”, revela Pelé, acrescentando que o cardápio sempre varia: dobradinha, churrasco, costela. O prato depende dos palpites no dia.

Outra regra importante é sobre as punições: são três cartões. Quem levar cartão amarelo, paga R$1, quem receber azul, paga R$2 e fica cinco minutos fora de campo, e quem receber vermelho, paga R$3, além de ser expulso. Para ser aceito no grupo, também é preciso ter mais que 35 anos. “Jogar contra garotão não dá, né?”, brinca Pelé.

Negueba foi ‘adotado’ pelo grupo mesmo com 19 anos

Uma das principais regras do grupo ‘Entre Nós’ é não aceitar jogadores com idade inferior a 35 anos. Isso porque, de acordo com a filosofia dos peladeiros, é prioridade manter um futebol só com veteranos. Mas uma figura de apelido Negueba, hoje com 21 anos, cativou aquele clube de alguns cabelos bracos, outros carecas, e conseguiu um espaço dentro das quatro linhas. “Ele é nosso mascote”, brinca ‘Pelé’.

Negueba - que tem esse apelido por parecer fisicamente com o ex-jogador do Flamengo - chegou ao grupo, há cerca de dois anos, após começar a trabalhar com um dos integrantes. Com uma base familiar incerta, ele acabou sendo ‘adotado’ pelos peladeiros.

“Ele não falta um domingo sequer. Pelo contrário, é um dos primeiros a chegar”, conta Gil, um dos fundadores do grupo.