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Amizade mais que real

Grupo completa 16 anos valorizando companheirismo e união entre atletas

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 28 de novembro de 2015 - 20:30

Diretoria do Grupo Real afirma que regras disciplinares são essenciais para manter o respeito entre os jogadores, evitando desavenças e fortalecendo as amizades

Foto: Kiko Charret

Por Cyntia Fonseca, Elena Wesley e Matheus Merlim

“Juntos somos realmente fortes”. O lema do Grupo Real, que completa 16 anos em dezembro, já revela que o companheirismo dos peladeiros ultrapassa as quatro linhas demarcadas do gramado society do Clube Mauá, no Centro de São Gonçalo. Como o próprio fundador Léo, ex-jogador do América-RJ, costuma dizer: o intuito das partidas é proporcionar experiências reais, amizades reais, um futebol real. Pensando assim, o nome do grupo, realmente, não poderia ser diferente.

Quem chega às laterais do campo e vê mais de 25 homens, todos uniformizados corretamente - camisa e calção azuis esverdeados e meiões verdes - não consegue acreditar que aquele grupo é composto apenas por amadores. O nível técnico das partidas também entrega que, naquela composição de peladeiros, há muito profissionalismo. E basta começar a conversa sobre a história do grupo para que todas as dúvidas sejam sanadas.

“Para entrar no grupo, o cara precisa assinar um contrato que vai de fevereiro a dezembro, com as mensalidades certinhas. Além disso qualquer confusão no jogo, como cartão amarelo, expulsão ou brigas, também acarreta multas”, conta Seu Pedro, atual presidente do Grupo Real. “É ele quem manda no dinheiro”, interrompe a entrevista, em tom de brincadeira, um dos atletas.

Para Seu Pedro, as regras disciplinares são fundamentais para manter o respeito durante os jogos. “Meu filho, por exemplo, ficou suspenso por ter discutido sério com um outro jogador. Aqui não tem essa de aliviar pra filho, não! Tem que se controlar”, relata o presidente ainda na concentração para a segunda partida da noite de quinta-feira, quando acontecem os jogos.

Uniformes são obrigatórios durante as partidas do Grupo Real
Após as peladas, jogadores não resistem às famosas resenhas

Embora um dos principais tópicos do regulamento do grupo seja o compromisso com as partidas, dois jogadores ilustres mantêm contrato com o Real, mesmo participando esporadicamente dos jogos. São eles: Ibson (ex-Flamengo e atual Minnesota United FC) e Marcelo Cordeiro (revelado pelo Vasco). A dupla contribui com as mensalidades, porém participa da brincadeira apenas quando está pelo Rio. Além deles, um representante gonçalense da Alerj também curte a pelada no Mauá, o deputado estadual Rafael do Gordo.

Os times são definidos quinze minutos antes das partidas. O critério de escolha baseia-se na ordem de chegada dos participantes e também na contribuição do atleta com o grupo. Em campo, embora a brincadeira pareça séria, o clima descontraído é presente em cada drible. Na hora do gol, então...

“Viu o gol? Faz uma foto aqui (referindo-se ao repórter fotográfico). Tô fora de peso, mas eu arrebento!”, exclama Fão, de 40 anos, camisa 10 de um dos times.

Ainda que a postura do grupo passe uma imagem de estabilidade, nem sempre foi assim ao longo destes quase 16 anos. A tramitação por outros seis lugares, entre quadra e campo, fez com que em uma das vezes, a estrutura quase se rompesse.

“Nossa pior fase foi quando precisamos jogar durante um tempo na Praça da Trindade. A quadra era ruim, pequena. Ficamos muito desmotivados a seguir em frente com o grupo. Quase paramos”, relembra Léo.

A resenha tradicional acontece ao fim de todos os jogos, por volta das 22h30. Enquanto a maioria trocava de roupa no vestiário, outros peladeiros esquentavam uma panela de caldo de camarão na varanda lateral do clube, próxima à piscina. O frio fez que com muitos, naquele dia, deixassem a cerveja habitual de lado e optassem pelo refrigerante em temperatura mais ambiente. As torradinhas davam o sabor adicional ao cardápio do dia. “A gente sempre faz essa resenha depois do jogo. Serve tanto para tratar dos assuntos do grupo, como também para conhecer melhor os mais novos e até conversar sobre os futuros eventos”, finalizou Seu Pedro.

29 700 Mulheres Reais KCAs ‘realezas’

O ideal de companheirismo ultrapassou os peladeiros para alcançar esposas e namoradas há pouco mais de um ano, quando surgiu o grupo “Mulheres Reais”.

“A gente se encontrava nas festas de final de ano, mas ninguém se sentia à vontade. Ficava todo mundo se olhando com cara de paisagem, achando a outra metida e conversando sobre assuntos genéricos, tipo o clima”, lembra a administradora Lúcia Cazé, de 41 anos.

O cenário mudou a partir da criação de um grupo no Whatsapp pela atual presidente ‘Real’, Juliana Pinheiro, de 37 anos. As famílias estavam reunidas para acompanhar uma partida da Copa do Mundo, e a psicóloga decidiu dar fim à falta de assunto entre o sexo feminino. Mais do que permitir a aproximação, a rede social proporcionou o surgimento de grandes amizades.

“O grupo de tornou um refúgio. Juntas, compartilhamos alegrias, tristezas, desabafos, incentivamos a prática de atividade física. Uma dá força a outra”, afirmou a professora Delma Rezende, 41. Deyse Garios acrescenta: “A cabeça das integrantes mudou. Foi um passo importante para compreender que, assim como os meninos, a gente também precisa ter o próprio tempo, conviver com quem pensa do mesmo jeito e vive as mesmas experiências. As mulheres precisam se descobrir!”, ressalta.

Do meio virtual, o grupo se estendeu ao mundo real, com reuniões mensais e encontros entre as famílias. Com uma nutricionista no grupo, o cuidado com a balança também se tornou uma meta. “Quero ver todas gostosas”, enfatiza a profissional Carla Terra, 39. Além da reeducação alimentar, as meninas também programam trilhas, caminhadas e piqueniques, incluindo as crianças em alguns passeios.

Após 15 anos de Grupo Real, a visão sobre a pelada está longe dos estereótipos.

“Hoje a gente compreende a necessidade que eles têm de estar juntos, e vivemos da mesma forma. As mulheres deveriam se unir mais, não deveria existir esta resistência às peladas. Em dia de futebol, o Whatsapp ‘bomba’. Eles ficam até curiosos para saber que tanto assunto é esse que nós temos”, conta Juliana.

Embora já possuam duas linhas de uniforme, falta às integrantes entrar em campo. Segundo as meninas, o desafio deve ser concretizado na festividade de final de ano. Enquanto a data não chega, elas organizam o time:

“Carla, que tem mais pique, poderia jogar de lateral. Mas eu seria volante, porque gosto de chegar com força”, brincou a farmacêutica Nete Pimentel, 39.

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