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Quarentões...mas, nem tanto!

Grupo completa 32 anos de peladas, renovando o time com os filhos

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 07 de novembro de 2015 - 21:32

Por Cyntia Fonseca, Elena Wesley e Matheus Merlim

Duas perguntas básicas decretavam quem se tornaria um novo integrante do grupo Os Quarentões: “Gosta de jogar bola?” e “Gosta de cerveja?”. Se uma das respostas fosse “não”, sem dúvidas, o ‘entrevistado’ estava fora. Fundado por médicos e representantes de laboratórios de medicamentos em 1983, na antiga Hípica, em São Francisco, Zona Sul de Niterói, o grupo de peladeiros resistiu ao tempo e às mudanças de sede, e atualmente tem como ‘casa’ o Campo do Espar, em Inoã, Maricá.

Pela dificuldade de manter o grupo apenas com atletas acima de 40 anos - como o nome pressupõe -, a diretoria teve que alterar o seu ‘estatuto’. “A gente quer dar sequência com a pelada, por isso, quando um de nossos filhos faz 18 anos, se ele quiser, pode entrar no grupo”, explica Rubão, um dos mais antigos dos Quarentões.

As ‘pelejas’ são realizadas sempre aos sábados, a partir das 8h30. Os dois times, no entanto, são formados a partir de uma estatística, que define a escalação de acordo com o número de pontos que cada atleta conquistou num período de três meses. O critério para o acúmulo de pontos é a pontualidade dos atletas nos dias de peladas e no pagamento das mensalidades de R$50.

Dentro de campo, ainda que a pelada seja um refúgio do stress semanal, se engana quem pensa que os jogos são disputados na ‘brincadeira’. Por isso, para controlar os ânimos dos craques, são contratados um árbitro e dois bandeirinhas da Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj) a cada encontro. Além deles, os goleiros também são pagos para defender os times, geralmente jovens da própria localidade.

O tom de seriedade, entretanto, fica restrito às quatro linhas. Do lado de fora, os que aguardam a vez de jogar estão liberados para “cornetar” à vontade. “Que que é isso, meu Deus? Você não é mais garoto de 20 anos não, toca direito”, grita um dos reservas.

Os 32 anos de união guardam momentos inesquecíveis, bons e ruins, sobre a história do grupo. Um marco positivo desta caminhada aconteceu em meados de 2003, quando os peladeiros decidiram construir a própria sede, com vestiários adequados e tudo mais. Na época, o Espar possuía apenas um bar e o campo.

Cinco anos depois da construção do galpão, um fato dentro de campo abalou o emocional do grupo. Damião, de 48 anos, precisou ser levado ao hospital emergencialmente, após levar uma bolada no abdômen. “Eu estava de fora quando ele levou a bolada e começou a sentir muita dor. Ele mudou de cor, não falava. Corri com ele para o hospital e fiquei de avisar ao pessoal depois”, lembra Rubão.

Ao chegar na emergência, Damião foi encaminhado diretamente ao Centro de Tratamento Intensivo (CTI). O peladeiro não sabia que, desde o nascimento, um de seus rins não funcionava, estava necrosado. Foram alguns meses de internação e cirurgias até que a situação se resolvesse. Somente após a recuperação física e o aval do médico, que ele pôde voltar a jogar. “Tô pronto para outra”, revela Damião.

Lembrando do passado, é importante ressaltar ainda a passagem de nomes conhecidos do mundo da bola pelos Quarentões. Craques do passado como os irmãos Joy (campeão pelo Bahia, em 1959) e Mário Riter (Seleção de Niterói e Goytacaz), Diniz (ex-Americano, de Campos) e Iti (reserva de Gerson) já fizeram parte do elenco do grupo.

Desde a origem de Os Quarentões, uma prática que não se perde é da tradicional resenha pós-jogos. Todo sábado os componentes do grupo se juntam para ‘queimarem’ uma carne, beberem umas geladas e jogar emconversa fora. “Acredita que até hoje minha mulher briga comigo. São 32 anos brigando. Ela pergunta todo sábado “você vai mesmo?”. Quando meus filhos eram pequenos, ela mandava eu trazê-los para garantir que eu ia vir mesmo para cá”, brinca Admílson, um dos fundadores.

Os veteranos do grupo se rendem aos mais jovens atualmente para manter a tradição das ‘pelejas’ realizadas todos os sábados (Foto: Kiko Charret)
Os veteranos do grupo se rendem aos mais jovens atualmente para manter a tradição das ‘pelejas’ realizadas todos os sábados (Foto: Kiko Charret)
No início do grupo, na década de 80, os ‘Quarentões’ tinham mais facilidade para conseguir integrantes com a faixa etária ‘exigida’ (Foto: Kiko Charret)
No início do grupo, na década de 80, os ‘Quarentões’ tinham mais facilidade para conseguir integrantes com a faixa etária ‘exigida’ (Foto: Kiko Charret)

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