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A história de Alcântara teve início há 60 anos com a família Abuzaid

Alcântara é considerado o principal pólo econômico e comercial de SG

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 24 de setembro de 2018 - 18:39
Creche municipal José Calil Abuzaid
Creche municipal José Calil Abuzaid -

A geração atual pode não fazer ideia, mas o lugar que hoje é considerado o principal pólo econômico e comercial de São Gonçalo, Alcântara, deve muito de sua história a José Calil Abuzaid, que atualmente dá nome a uma creche municipal, no bairro de Vista Alegre.

Marido de Iolanda Sad Abuzaid - que dá nome a uma das ruas mais populares do Alcântara - Calil Abuzaid nasceu em Niterói, no dia 21 de setembro de 1916. Filho de libaneses que chegaram ao Brasil em navios a vapor no fim do século XIX, José Calil aprendeu desde muito cedo a lidar com o comércio.

“Meu pai começou a trabalhar como barbeiro aos 15 anos. O pai dele, meu avô, tinha uma lojinha, mas mal dava para o sustento da família. Quem ajudava muito em casa era a irmã mais velha do meu pai, que trabalhava no cais do porto, ganhava bem, mas teve uma apendicite e acabou falecendo. Então, vendo toda aquela situação difícil em casa, meu pai queria ajudar, e aprendeu a profissão de barbeiro, quando a  família morava ainda em Cachoeiras de Macacu”, conta o médico aposentado José Alexandre Sad Abuzaid, o mais velho dos quatro filhos.

Os problemas financeiros levaram a família a sair de Cachoeiras e mudar para o bairro Barracão, em SG, onde se instalou inicialmente, próximo a Santa Izabel. Já casado com a também descendente de libaneses Iolanda Sad, Calil começou a ‘escrever’ a história de Alcântara, lugar onde há cerca de 60 anos, não havia nada, além de uma bomba de gasolina, duas ou três casas comerciais - uma de seu pai - e do bonde que ligava aquelas terras ao centro de São Gonçalo. 

Na época, os comerciantes tratavam os negócios de forma direta, sem mediação de  bancos e, por vezes, não havia nem mesmo escrituras dos terrenos. “Manoel João Gonçalves foi o primeiro construtor em São Gonçalo e Niterói. Foi para Alcântara para construir o primeiro prédio, onde morei e onde meu pai teve as lojas. Na época, meu pai ficou interessado e quis comprar o prédio onde havia cinco lojas e quatro apartamentos em cima. Só que ele não tinha dinheiro e negociou a compra assim mesmo. ‘Quero abrir a loja, conseguir o dinheiro e ir te pagando’. E foi esse o combinado, sem escritura, sem documentação. Naquele tempo era assim”, conta José Alexandre.

E foi do zero que o local foi crescendo, aos poucos, com a construção de outros prédios. “O que fosse necessário para o progresso do município, meu pai corria atrás e conseguia, como asfalto, melhorias. Eles (os pais) nunca visaram ficar ricos. A igreja de São Pedro de Alcântara, por exemplo, mamãe fazia festas para arrecadar fundos para realizar as obras, que infelizmente ela não chegou a ver concluídas”, acrescenta o médico.

Um visionário

Após o loteamento de uma das fazendas locais, o prefeito da época asfaltou a estrada Alcântara - São Gonçalo e substituiu os bondes por ônibus. Depois, veio a rodovia Amaral Peixoto, já com Calil presidente do Clube dos Diretores Lojistas e vivendo o progresso do município.

Calil vivia entre amigos de infância que se tornaram ilustres. Entre eles, Geremias Mattos Fontes, ex-governador do antigo Estado do Rio, e Célio Lessa, vereador. Todos participaram do progresso da região e do movimento para que a rodovia não cortasse o bairro ao meio, como se fosse um muro, como conta uma edição do jornal O SÃO GONÇALO da época. Com o apoio da comunidade, conseguiram a construção do atual viaduto de Alcântara, na rodovia Amaral Peixoto. As vias continuaram a levar o progresso a Alcântara. Hoje, as duas principais são Alfredo Backer e Iolanda Sad Abuzaid.

José Calil Abuzaid foi também dirigente do Rotary Club, Juiz de Paz por 32 anos, presidente do Educandário Vista Alegre, e presidente do Abrigo Cristo Redentor por 25 anos. Após o falecimento da esposa e sua dedicação maior para a filantropia, a tarefa de cuidar dos negócios ficou, então, para o filho mais velho, mas Calil nunca se distanciou totalmente. Às sete da manhã, abria a loja de rações de sua segunda esposa, Lisle Borsato Abuzaid, com quem casou em 1973. Ao meio-dia, ia para o Abrigo Cristo Redentor, onde organizava almoços beneficentes, buscava doações para sustento da instituição, e mantinha a Prefeitura pagando a conta de luz, único subsídio oficial que recebia na época.

“Ele tinha muitas amizades políticas, mas nunca quis se envolver diretamente com a política. E ele tinha a mania de confiar demais nas pessoas, achava que todo mundo era bom. Ele praticamente trabalhou a vida inteira com quatro gerentes, e sempre procurava ajudar os outros a progredir”, relembra José Alexandre, o mais velho dos irmãos José Augusto, Lorice e José Antônio.

José Calil morreu em 21 de novembro de 2005, aos 89 anos. No ano seguinte, durante o governo de Aparecida Panisset, a creche municipal Vista Alegre recebeu o nome de José Calil Abuzaid, em homenagem póstuma.

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