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Joaquim Lavoura e sua dedicação ao município de São Gonçalo

Lavoura é considerado um mito

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 24 de setembro de 2018 - 18:38
Joaquim de Almeida Lavoura
Joaquim de Almeida Lavoura -

Líder nato, político presente e homem do povo são apenas alguns dos atributos espontaneamente expressados em São Gonçalo quando o assunto é Joaquim de Almeida Lavoura, seja de quem o conheceu pessoalmente, ou de quem apenas ouviu falar. O legado deixado não deixa mentir: Lavoura é patrono de uma escola municipal no bairro Barro Vermelho; do Centro Cultural Lavourão, na Estrela do Norte; de rua no bairro Vista Alegre; e do viaduto da rodovia estadual RJ-104, em Tribobó. As homenagens se estendem ainda a um busto do político, hoje localizado na Praça Estephânia de Carvalho, no  Zé Garoto.

Apesar de ter dedicado toda a vida à política e progresso de São Gonçalo, o filho de José Marques de Almeida e de Maria Cândida de Almeida, não nasceu por aqui. Diferentes fontes em diferentes biografias discordam, no entanto, quanto ao bairro onde ele nasceu e viveu os primeiros anos: Bonsucesso, Caju, São Cristóvão, ou mesmo Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 4 de abril de 1913.

A chegada a São Gonçalo se deu aos sete anos, após ficar órfão de mãe. A família do menino, registrado como Joaquim Marques de Almeida, precisou mudar-se, com mais sete irmãos, e se estabeleceu no bairro do Gradim. Pouco tempo depois, ao perder também o pai, coube à avó paterna, dona Joaquina Marques Lavoura, cuidar de sua criação. Em reconhecimento, Joaquim decidiu, assim que completou a maioridade aos 21 anos, incluir o sobrenome da avó, ficando oficialmente Joaquim de Almeida Lavoura. 

Antes disso, porém, não teve infância e adolescência fáceis, como conta uma de suas biografias. Alfabetizado pela Escola Pública de Porto Velho, completou o curso primário, o que hoje corresponde ao ensino fundamental até o quinto ano, e começou a trabalhar desde muito cedo. Citado no livro ‘Joaquim Lavoura e o lavourismo’, elaborado para comemoração de seu centenário, o articulista Mansour Challita descreve Lavoura como um jovem que, ao ficar órfão de pai e mãe muito cedo, tornou-se “cortador de lenha” para garantir seu sustento. 

Outras fontes afirmam que, antes de sua inserção na política, Joaquim Lavoura teria sido pescador, além de operário numa fábrica de conservas, onde aí sim teria dado seus primeiros passos em direção à vida pública. Trabalhou também como comerciante e, ainda jovem, adquiriu um armazém de secos e molhados, além de mais alguns imóveis, o que acabou levando-o a conquistar um padrão de vida “ligeiramente superior ao de uma parcela significativa da população local”, como citou uma edição de O SÃO GONÇALO, em fevereiro de 1956. 

“Ele trabalhava no armazém e tinha um caderninho de anotações das vendas, para quem não podia pagar na hora. Mas não deixava de vender, e com isso foi ficando cada vez mais conhecido e mais querido nos arredores”, conta Osmar Leitão.

Com a política correndo nas veias desde cedo, não demorou muito para Joaquim Lavoura ingressar oficialmente na vida pública, o que ocorreu em junho de 1937, quando foi nomeado funcionário municipal pelo então prefeito eleito Manoel Gonçalves Amarante. Mas ficou no cargo durante pouco mais de um ano, pois com a posse do prefeito seguinte, Francisco Lima, exonerou-se e voltou às atividades de comerciante. O retorno aconteceria em 1945, com ingresso no Partido Social Democrático (PSD), pelo qual seria eleito vereador dois anos depois. Conforme os anos passavam, sua proximidade com a população só aumentava e, consequentemente, sua popularidade, que passou a estender-se a outros cantos do município, antes restrita aos bairros do Gradim e Porto Velho. Percebendo que não teria mais espaço no PSD, ingressou no Partido Trabalhista Nacional (PTN), onde fez a campanha para prefeito com o lema do “tostão contra o milhão”. Para surpresa geral, foi eleito e tomou posse em 1955, iniciando a grande revolução que havia prometido em campanha.

Rico legado

“Fenômeno político eleitoral” é como Joaquim Lavoura é descrito na obra de estudo de Edila Gomes Barreto, que também é citado no livro de seu centenário. Lavoura trabalhava incessantemente das 5 da manhã às oito da noite, durante os 30 dias do mês, sem ficar restrito ao gabinete. Pelo contrário, “todos os aspectos da administração eram por ele observados. Quando não havia despachos a fazer em seu gabinete, ele se dirigia à garagem para supervisionar a recuperação dos veículos, ou se dirigia às obras públicas para verificar o seu andamento”, explicita Edila Gomes Barreto.

Entre as frases de campanha que mais falava, “quero me eleger prefeito para trabalhar” foi aquela a que mais fez jus. Diminuiu o próprio salário que, na época, passou de CR$ 90.00,00 para Cr$ 16.500,00 por mês, mas que segundo funcionários da prefeitura, ainda distribuía a metade para os necessitados que o procuravam. 

“Ele foi um divisor de águas. Culturalmente, o governo municipal antes de Lavoura era uma coisa, e depois dele, tornou-se outra, se modificou. Ele repetia muito que o funcionário tinha de respeitar a população para ser respeitado. Foi uma revolução. E apesar da pouca instrução, ele estava sempre próximo da garotada que estava ‘subindo na vida’, como os estudantes da AGE, que era a associação gonçalense de estudantes”, acrescenta Osmar Leitão.

Entre as obras mais importantes idealizadas por Joaquim Lavoura estão a construção do atual Pronto Socorro Central, do Hospital Infantil Darcy Sarmanho Vargas e diversos postos de saúde, além da municipalização do Hospital de São Gonçalo, que passou a chamar-se Luiz Palmier. Alargou vias principais do município, pavimentou os bairros Porto Velho e Alcântara e melhorou a iluminação pública em vários outros bairros.

Nas áreas da Educação e Cultura, construiu a biblioteca municipal, o teatro-auditório, hoje desativado, além de diversas escolas, entre elas o Ernani Farias, em Neves; Estephânia de Carvalho, no Laranjal; Monsenhor Barenco Coelho, no Boassu; Prof. Adélia Martins, no Coelho; Carlos Maia, no Porto Velho; Lauro Corrêa, na Trindade; Antonieta Palmeira, no Colubandê; Escola Rotary, no Miriambi; Francisco Lima, no Gradim; Prof. Trasilbo Filgueiras, no Jardim Catarina; Prof. Luiza Honório de Prado, no Engenho Pequeno, entre outras.

Com o fim do mandato, elegeu como sucessor, seu chefe de gabinete e amigo, Geremias de Mattos Fontes, em 1958, época em que ele próprio acabou eleito vereador.  Foi prefeito pela segunda vez em 1962, e no mandato seguinte, elegeu seu sucessor Osmar Leitão Rosa. Foi deputado estadual em 1970, e dois anos depois, retornou à liderança no município de São Gonçalo, quando foi eleito pela terceira vez prefeito. “Embora em 1972, pudesse se pensar que sua figura estaria desgastada diante da população após 16 anos ininterruptos em que o grupo dos seguidores de Lavoura e ele próprio se revezaram no comando, eis que ressurge vitorioso, demonstrando a mítica em torno de seu nome”, destaca Edila Gomes Barreto em seu estudo. 

14 de novembro uma cidade em comoção

Aos 61 anos, Lavoura começou a apresentar problemas cardíacos. O primeiro infarto agudo do miocárdio aconteceu em 1974, já em seu terceiro mandato como prefeito, e no ano seguinte, após permanecer internado por três meses, acabou falecendo no dia 12 de novembro. 

O sepultamento, que ocorreu dois dias depois, ficou marcado na memória de milhares de cidadãos da época, pela grandiosidade da comoção. Cerca de 30 mil pessoas seguiram o cortejo funerário até o cemitério de São Gonçalo, entre elas nomes importantes como o então governador Faria Lima, o senador Vasconcelos Torres, o presidente da Arena, Heleno Nunes, o ex-governador Geremias de Mattos Fontes, além de diversos militares, políticos e moradores de regiões vizinhas.

“Lavoura é um mito que vai continuar vivo através de suas realizações. Ele é um exemplo de probidade administrativa, que morreu pobre”, declarou, na época, o senador Vasconcelos Torres.

A multidão era tanta que foram precisas forças de segurança para o fechamento do portão do cemitério. “Ele era muito querido, então todos queriam acompanhar, ver, chegar perto, e como já estava noite quando ele foi enterrado, houve o receio de confusão. Alguns tentaram, inclusive, pular o muro do cemitério”, revelou Osmar Leitão.

A escola

O primeiro prédio escolar que recebeu o nome de Joaquim Lavoura como patrono data dos anos 60, no bairro Barro Vermelho, na Rua Luiz Esteves, onde até 2016 funcionava a Escola de Música Pixinguinha. A reinauguração da escola municipal e transferência para o novo prédio, no mesmo bairro, aconteceu em 2000, durante o governo Edson Ezequiel, que idealizou a escola com o projeto ‘Casa do Futuro’ em anexo. 

Atualmente, a escola conta com 487 alunos, da educação infantil ao 5º ano do ensino fundamental, sob a direção de Márcia da Costa Silva. Além do projeto especial realizado no centenário do patrono, em 2013, a escola organiza anualmente, projetos de aquisição de leitura e escrita, com incentivo de leitura de, no mínimo, 4 livros de literatura anuais, além de chás literários na biblioteca para os profissionais da instituição.

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