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Projeto social oferece aulas de yoga de graça para idosos em Niterói

Grupo conta com mais de 60 alunos

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 03 de julho de 2017 - 10:30
O instrutor Henrique Moraes se sente recompensado com os resultados práticos do trabalho
O instrutor Henrique Moraes se sente recompensado com os resultados práticos do trabalho -

O dia era 30 de setembro de 2015. Acostumada a passar diariamente pela Praça Riodades, no Fonseca, Niterói, e ver vários idosos fazendo exercícios físicos de forma errada, a terapeuta e esteticista Maria Lucia Almeida, de 60 anos, se incomodou. Era preciso alguém para orientá-los a realizar as atividades da maneira certa. Mais do que isso: era preciso alguém para reuni-los e abraçá-los - literal e emocionalmente. Foi assim que nasceu o projeto social “Grupo das Margaridas e Cravos”, voltado à saúde e melhor qualidade de vida de idosos.

Com formação em Fisioterapia Holística, Maria Lucia começou a usar seu conhecimento para orientar as senhorinhas que frequentavam a praça todas as manhãs. De orientações a aulas, de aulas a reuniões, de reuniões a um grande grupo. Quando se deu conta, Maria estava com mais de 20 idosos sob sua supervisão, e o compromisso estava firmado.

Hoje, o grupo com mais de 60 idosos tem cronograma de atividades durante toda a semana e funciona em um espaço cedido pela Capela de Santo Antônio, na própria Riodades. Através de parcerias voluntárias, Maria Lucia formou uma equipe de profissionais de Psicologia, Terapia de Florais, Fisioterapia, Enfermagem e Yoga.

A recepção dos idosos foi imediata.

“Depois de certa idade, conforme os filhos vão saindo de casa, o idoso vai ficando cada vez menos sociável, por conta de doenças, ou porque não quer mais sair de casa. Então, quando ele sai e vê seus pares, vê que aquela solidão e aquele sedentarismo não é só dele, isso por si só já é um diferencial. O trabalho mexe não somente com a parte física, mas também com a auto estima deles”, explicou Henrique Moraes, de 46 anos, que dá aula de Yoga duas vezes na semana para os idosos.

A fisioterapeuta Natali de Azevedo Brito, 30, também se diz grata ao ver a evolução do trabalho ao longo desses dois anos.

“Muitos chegavam chorando, precisando do nosso abraço. Então além de melhorar a flexibilidade, postura, desequilíbrio, evoluímos também na parte emocional. Tivemos exemplos de senhoras que não conseguiam realizar atividades simples, como fechar sutiã ou pendurar a roupa na corda, e hoje em dia conseguem. A gente visa justamente isso: o envelhecimento saudável. Queremos eles possam ser capazes de fazer todas as atividades diárias normalmente”, disse Natali.

‘Fui curada aqui com o carinho’

“Perdi meu marido e não queria mais sair de casa. Meu irmão conheceu a Lucia por acaso e insistia para eu conhecer o grupo, mas eu não relutava, não queria ir. Até que um dia, ele não quis esperar mais e me convenceu. Era dia de psicólogo, e quando eu cheguei, desabafei tudo e desde então fiquei. Hoje, sou coordenadora e quando chega o fim de semana, eu sinto falta de estar aqui, fico aguardando pela segunda-feira. Hoje em dia, abraço a cada um como se eu mesma tivesse sendo abraçada. Eu fui curada aqui com o carinho de cada um”.

Em depoimento emocionado, a dona de casa Nancy Lima Raposo, 73, conta que participar do projeto foi um divisor de águas em sua vida. Participante há oito meses, ela não se vê mais sem participar das aulas. Se antes, ela não tinha capacidade de nem mesmo de lavar os próprios pés sozinha, hoje ela encontra disposição para ajudar a organizar as reuniões e festas do grupo.

Outra “testemunha viva” dos resultados do projeto é a dona de casa Vera Lucia Soares. Com uma rotina pacata e sedentária, ela se viu sozinha cuidando da neta e sem maiores motivações para sair de casa. Com o projeto, ela conquistou mais do que disposição física, muitas amizades.

Mudança nítida e impactante foi a vivida também por Ediléia Fabrício de Meneses, 79. Mesmo tímida, ela não poupou palavras ao comentar sobre o quanto a vida mudou após participar das aulas de fisioterapia e expressão corporal.

“Ah, antes eu era toda torta, andava torto porque trabalhei muitos anos carregando água de um lado para o outro, então fiquei com um grave desvio na coluna”, contou. Hoje, com uma nova postura, ela carrega apenas um sorriso constante no rosto e as amizades que fez ao longo dos dois anos de projeto.

Alunos de muitos bairros de SG

Funcionando de forma voluntária, o projeto recebe apoio de um colégio particular da região, de duas padarias que fornecem pão para o café da manhã que é oferecido diariamente aos idosos; e de um hortifruti, para os almoços realizados periodicamente.

“Muitos vêm de bairros distantes, como Monjolos, Alcântara, Praia das Pedrinhas, às vezes sem comer nada, então comecei a ver que alimentá-los também era importante. Então o café da manhã tornou-se diário antes das aulas. Quando começamos, era uma coisa de louco, mas hoje, se a gente falta, eles cobram, nos ligam, sentem falta”, relembra a idealizadora, Maria Lucia.

Usando espaço adaptado apenas com cadeiras para as aulas, o projeto precisa de doações para se manter e expandir.

“A Yoga, geralmente, é feita com tapete, elástico, bolas, pois são exercícios variados de respiração, concentração, equilíbrio. Como não temos esses materiais, eu adapto com cadeiras”, explica Henrique Moraes.

Quem quiser colaborar com o projeto, os telefones para contato são 99580-2546 (Maria Lúcia) e 99914-0534 (Henrique).

Por Cyntia Fonseca

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