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Conto de fadas da vida real

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 26 de junho de 2017 - 10:00
Imagem ilustrativa da imagem Conto de fadas da vida real

Por: Marcela Freitas

Uma menina absurdamente linda e pobre que encontra um empresário de modelos por acaso na rua, e sua vida muda completamente. Essa poderia ser mais uma história de muitas jovens que ficaram famosas no mundo fashion se não fosse um detalhe importante: a personagem da vida real tem uma síndrome rara que lhe causou perda auditiva e alteração na pigmentação dos cabelos, olhos e pele.  Essa é Ketllen Silva de Jesus, de 11 anos, descoberta pelo fotógrafo  e dono da agência NitModels, João Pedro Sampaio, há três semanas num supermercado no centro de Niterói. 

O encontro foi tão marcante para João que ele resolveu postar, em sua rede social, um relato sobre o momento em que se deparou com a menina, que mora no Boaçu, em São Gonçalo. E, para surpresa dele, o post viralizou e já foi curtido por mais de 89 mil pessoas e compartilhado por quase 26 mil. 

“Estava no mercado quando tive a atenção voltada para a menina que pegava um biscoito. Tinha a visto apenas de perfil mas fui atraído pela delicadeza dos traços dela. Quando ela me olhou, fiquei encantado com seus olhos azuis. Foi uma explosão de beleza para mim. Ela me olhava como quem fosse dizer algo mas não disse. Aí, eu a cumprimentei e recebi uma resposta com as mãos na língua de sinais (libras). Foi então que percebi que Deus lhe deu lindos olhos, mas ela nasceu sem a audição”, contou João Pedro. 

A princípio, revelou ainda João Pedro, ele encontrou certa resistência na abordagem por parte da mãe da menina, Cleide Silva, de 37 anos. 

“Quando falei sobre a agência e a convidei para o curso ela disse que não tinha condições financeiras. Apesar de sempre chamar muita atenção, em todas as portas que bateu, as despesas eram altas: books, cursos, taxas, viagens. Tudo muito longe da realidade da família. Expliquei para ela que esse não era meu trabalho e dei a ela uma camisa de nossa agência. Mas não esperava que a história dela fosse atingir tantas pessoas na minha rede social. Ketllen já está recebendo convites de trabalho”, completou o fotógrafo. 

Reabilitação - Ainda segundo João Pedro, o mais importante para ele tem sido os convites de médicos que querem reavaliá-la para tentar reverter a surdez de Ketllen.  

“Alguns tipos de surdez podem ser revertidos mas para isso é preciso saber qual o grau de comprometimento do aparelho auditivo. No caso dela, já sabemos que existe a possibilidade de reabilitação, mas o tratamento é caro. Pelo SUS, ele só é feito até os 7 anos; na rede particular, está fora do orçamento da família. Então vamos aproveitar essa oportunidade para ajudá-la e buscar quantos médicos forem necessários. Nosso foco, portanto, no momento, é esse, antes de qualquer trabalho que ela venha realizar”, explicou João. 

Como não poderia ser diferente, a mãe de Ketllen disse que está muito feliz com o que vem acontecendo com a menina. 

“Quando João nos convidou não achei que fosse sério. Só quando vim até a agência, e Kettlen foi recebida por outras crianças que percebi que era verdade. Descobrir que minha filha pode voltar a ouvir é muito emocionante. Sonho com o dia que vou chamar pelo nome dela e ela vai me atender”, contou. 

Síndrome rara e congênita 

A surdez de Ketllen foi descoberta com apenas um mês e meio de vida. Após uma partida de futebol em que seu pai soltou alguns fogos, Ketllen não reagiu ao barulho. O que chamou a atenção da mãe. Após consulta com pediatra e exames, Cleide soube que Kettlen era portadora da síndrome de Waardenburg, que lhe causou  surdez bilateral profunda. 

“Quando ela nasceu eu estranhei os olhos claros. Tenho outros dois filhos com olhos escuros. Falei com a enfermeira, e ela disse que até os três meses mudaria. Então fiquei mais tranquila de ir com a bebê para casa. Ketllen tinha ainda uma mecha branca na cabeça, que agora sei que tem a ver com a síndrome”, disse Cleide. 

Cleide revelou ainda que Kettlen usa um aparelho para tentar estimular o sistema auditivo, mas não escuta nada. Para garantir uma educação de qualidade à filha, Cleide deixou de trabalhar para acompanhar a menina todos os dias ao Instituto Nacional de Educação de Surdos, em Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Como Cleide não tem condições financeiras para ir e voltar a São Gonçalo, ela passa o dia na escola, que é integral. 

“Até os 6 anos ela estudou em Niterói e depois a coloquei em uma escola regular em São Gonçalo, mas como as greves eram constantes e ela passava mais tempo em casa do que na escola, resolvi matriculá-la no Instituto de Surdos. Após alguns exames, ela conseguiu a vaga, e há dois meses e meio estuda em Laranjeiras. Estou esperando abrir vagas nos cursos para aprender a me comunicar com ela melhor através da libras”, disse Cleide que atualmente usa um aplicativo de celular para aprender a língua. 

Síndrome - A Síndrome de Waardenburg é doença genética que se carateriza essencialmente pela perda de audição e mudanças na coloração do cabelo, da pele e dos olhos. Calcula-se que 2% a 5% de toda surdez congênita seja devida a esta patologia. A doença tem esse nome porque o primeiro a descrever esta doença foi o oftalmologista holandês Petrus Johannes Waardenburg. 

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