A realização de um grande sonho

Por Cyntia Fonseca

Até que ponto se deve-se chegar para realizar um sonho? Economista por formação, o niteroiense Celso Possas Junior, de 50 anos, ultrapassou limites considerados “aceitáveis” pela maioria das pessoas para realizar um sonho: ser escritor e abrir a própria editora.

Sem deixar o lado empreendedor, ele trocou uma sólida carreira em uma multinacional do ramo de navegação - onde trabalhou por mais de 30 anos - para criar a Editora Itapuca, em Niterói, que também conta com uma livraria virtual. Iniciada há apenas nove meses, a Itapuca já colhe os primeiros frutos: quatro livros publicados e mais oito na fila para serem lançados até o fim deste ano. Até 2021, o objetivo é publicar 30 títulos.

Mais do que um editor independente, Celso quer alavancar projetos de novos autores, especialmente moradores de Niterói, São Gonçalo e região. Como meta da editora, ele pretende lançar, até 2018, seis novos escritores, além de investir em obras no formato digital para serem vendidas em diversas plataformas, inclusive internacionais.

É claro que nada aconteceu da noite para o dia. A dura decisão de abandonar a carreira como executivo veio acompanhada de muitos pontos de interrogação. Sem qualquer receio, ele revela que tem aprendido diariamente a lidar com um novo padrão de vida e com os riscos de um investimento em outra área.

“Sempre fui um leitor inveterado e aquele típico escritor de domingo, feriado e das madrugadas. Escrevia sempre que tinha tempo. Em 1999, fiz a primeira tentativa de me lançar como escritor-editor, até deu certo mas não dei continuidade porque precisava trabalhar, viajava muito. Mas percebi que em algum momento, eu teria de optar. Ficava sempre adiando, ‘quando eu fizer 55 anos e quando eu tiver tanto de dinheiro na poupança’”, contou.

Até que em 2016, a idade emblemática, 50, chegou, e ele resolveu que não esperaria mais. A paixão em escrever e a vontade de fazer suas histórias chegarem até os leitores era urgente, pulsante, quase uma necessidade.

“Sentei com meus filhos e os expliquei que meu padrão de vida iria mudar. Hoje, não tenho vergonha de dizer que almoço quentinha, e estou lavando a própria roupa e louça. Larguei tudo e comecei a fazer várias coisas ao mesmo tempo. Ano passado, estudei muito para me tornar um escritor melhor e também aprender como ser um pequeno editor. Como já tinha vários livros na gaveta, alguns iniciados, outros pela metade, peguei um por um e iniciei o processo de produção”, explicou Celso.

Aficionado pelo gênero suspense, Celso apresenta com orgulho os títulos “A operação Baumann”, “O revelador” e “A Farsa de Ártemis”, seu “filho favorito”.

Romance ‘vampiresco’

Vampiros no Brasil Colonial. Um triângulo amoroso, homossexual, que envolve pessoas bipolares. Muita criatividade e determinação para contar histórias únicas e envolventes.

Para garantir que a paixão pela escrita vá muito além de uma formação na área de Humanas, basta conhecer a história de Rômulo Gonçalves Ribeiro, 26. Assistente de auditoria, o morador de Neves, São Gonçalo, se rendeu ao sonho de publicar o primeiro livro no ano passado, quando começou a escrever um romance contemporâneo.

Disponível em formato digital naAmazon, “Dupla Face” aguarda para ser publicado em versão impressa, cujo autor assina o pseudônimo Rômulo Baron.

Além do romance, ele teve um de seus contos selecionados para uma antologia prevista para ser publicada pela Editora Empíreo, com sede em São Paulo. “Vampiro - um livro colaborativo” reunirá 50 contos de autores de todo país.

Quem quiser acompanhar a produção de “Vampiro - um livro colaborativo”, o link é www.facebook.com/vampirolivrocolaborativo/

De olho também nas plataformas digitais

“Considero ‘A Farsa de Ártemis’ como um divisor de águas na minha carreira. Ele separa a minha vida entre escritor amador e escritor profissional”, resumiu Celso.

Com uma trama cativante, o enredo de “A Farsa de Ártemis” é desenvolvido em torno de um segredo mantido por quase 50 anos.

Com alguns trechos baseados em fatos reais, a obra de ficção aborda uma das mais famosas teorias da conspiração, que foi exaustivamente pesquisada pelo autor durante meses.

Homenagem à Niterói - Inspirada na famosa Pedra de Itapuca, que fica na Praia da Boa Viagem, em Niterói, a Editora Itapuca é um marco de recomeço na vida de Celso, sua família e centenas de novos escritores e leitores.

Além da homenagem às terras de Araribóia no nome da empresa, Celso incluiu a cidade em trechos dos seus três primeiros livros já publicados.

“Já morei em São Paulo, Brasília, mas nasci aqui em Icaraí e sou apaixonado por essa cidade”, contou.

Além dos livros físicos, todos os títulos estão disponíveis em formato e-book nas principais livrarias online, incluindo a loja virtual da Itapuca, com frete grátis para todo Brasil.

Lançamento mais recente, “O Turco”, do escritor Juca Serrado, já se encontra disponível na plataforma virtual. É o quarto livro publicado pela editora.

De olho no mercado - A crise no mercado editorial corre ao lado da crise econômica no país. Se em 2014 havia uma esperança de que os números do setor acompanhassem um possível crescimento do PIB, hoje já é possível garantir que isso não vai acontecer.

Uma pesquisa divulgada pela Fipe mostrou que o preço real do livro caiu 36% em 2015 e o faturamento passou de R$1,6 bilhão para 1,4 bilhão. No nicho das editoras independentes, a situação torna-se ainda mais agravante, já que apenas cinco grupos de grandes empresas são responsáveis pela produção de 50% dos livros vendidos no mundo. A esperança está nessa outra metade.