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Só viagem e descanso agora

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 29 de agosto de 2016 - 08:00
Martine Grael e Karina Kunze compartilharam muitas coincidêcias em suas trajetórias, além de um 'DNA' ligado ao esporte
Martine Grael e Karina Kunze compartilharam muitas coincidêcias em suas trajetórias, além de um 'DNA' ligado ao esporte -
Ainda sob efeito de terem ganhado a prova de vela na Olimpíada Rio 2016, categoria 49erFX, as meninas de ouro do Brasil, a niteroiense Martine Grael e a paulista Kahena Kunze, ambas de 25 anos, ainda não tem planos para o futuro e no momento só pensam em descansar e viajar para, então, iniciarem um novo planejamento. As duas, além de serem filhas de campeões, compartilham muitas coincidências, que foram reveladas enquanto comemoravam a medalha, em Niterói.
As meninas se conheceram por causa de um objetivo em comum, que foi o esporte, e participaram de muitas festas de confraternização dos praticantes da vela. Ambas iniciaram no esporte durante a infância. Martine - que é filha do medalhista olímpico Torben Grael - começou aos 11 anos, e Kahena, filha de Claudio Kunze, campeão mundial júnior da classe Pingüim em 1973, aos 9.  
Kahena treinava no Iate Clube Rio de Janeiro, enquanto Martine fazia as aulas no Rio Yacht Club, em São Francisco, Niterói, local onde O SÃO GONÇALO as entrevistou, na última quinta-feira. Apesar de serem filhas de velejadores, nenhuma das duas, porém, foram forçadas a praticar um esporte.
"Nunca nos deram essa obrigação de entrarmos no mundo do esporte e nunca forçaram a barra para competirmos. Eu que quis e pedi um barco. Hoje somos viciadas em competir", explicou Kahena. "O diferencial de ter uma família que veleja é a paixão pelo mar. Crescemos assim, temos carinho e respeito. Adoramos passar nosso tempo de lazer no mar", disse Grael.
A parceria entre as duas começou em 2009, após competirem e ganharem o Mundial da Juventude, da classe 420, que aconteceu em Búzios, Região dos Lagos. 
"Umas águas aqui e outras ali, acabamos virando amigas. Eu e Martine éramos as únicas do nosso grupo que ainda podiam participar do campeonato que ocorreu em Búzios, em 2009, pois era apenas para competidores de até 18 anos. Acabamos ganhando a competição e desde então mantivemos a dupla", contou Kahena.
As duas se dedicaram um tempo à faculdade de Engenharia Ambiental - que é outro objetivo em comum entre a dupla - e voltaram a velejar juntas em 2012, quando iniciaram a campanha para a Rio 2016. 
"No início da parceria, éramos muito jovens e competir na Olimpíada era um projeto menor. A gente ainda estava na escola e matávamos aula para treinar o máximo que dava, mas sempre tentando conciliar os estudos", contou Martine. 
Com dificuldades de manter a rotina entre treinos e estudos, tanto Martine quanto Kahena tiveram que trancar temporariamente o curso, que ainda pretendem terminar futuramente. O fato da Engenharia Ambiental ter sido a escolhida entre as duas foi que sempre foram ligadas à natureza.
"Abandonamos pois é muito difícil conciliar os dois. Chegou um ponto que tivemos que escolher: ou faríamos uma faculdade para aprender e entrar no mercado ou faríamos por fazer", explicou Martine. "Sempre fomos ligadas à natureza e queríamos ajudar de alguma forma, fazer uma diferença positiva para o mundo. É uma faculdade que talvez eu me forme, mas não necessariamente trabalhe com isso", finalizou Kunze, que mora há 15 anos no Rio.
Durante a fase de preparação para a Olimpíada, as jovens competidoras participaram de muitas etapas internacionais e, inclusive, ganharam o mundial em 2014, em Santander, na Espanha, título esse que fez com que as duas fossem eleitas as melhores velejadoras do ano pela Federação Internacional de Vela.
Série olímpica - Um mês antes da Olimpíada, OSG fez uma série de reportagens sobre representantes de Niterói e municípios vizinhos na Rio 2016. Com o resultado, Kahena e Martine foram as únicas da região que ganharam medalhas. Os outros atletas, cujos perfis foram retratados nas reportagens, foram Beatriz Futuro Muhlbauer, do rugby; Diogo Hubner, handebol masculino; Marcus Vinicius D'Almeida, tiro com arco; Íris Tang Sing, taekwondo; Fernanda Decnop, vela; Marco Grael e Isabel Swan, também da vela. 
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Reconhecimento - Após terem ganhado a medalha de ouro, as duas dividem histórias engraçadas por causa do reconhecimento. Kahena, que geralmente tinha o nome pronunciado de forma errônea, acha divertido o fato de agora a chamarem corretamente.
"Todo mundo fala: 'olha, é ela'. Geralmente quando chamam pelo meu nome de forma correta, eu acho que é alguém conhecido meu, pois quem não me conhece costuma pronunciar de forma errada, por ser um nome bem diferente. Esses dias uma pessoa me chamou na rua e olhei procurando por alguém que eu conhecia, mas não era. Achei muito divertido. Isso tudo é bem legal", contou Kahena.
Martine também foi chamada na rua, mas para receber os parabéns. "Demorei um pouco para processar a informação do porquê eu estava recebendo os parabéns. Só depois me liguei que foi por causa da medalha. Muita gente diz que chorou e se emocionou. Fico contente com isso", completou Martine.
Mas para elas, o fato mais importante é que muitas pessoas estão tendo a oportunidade de conhecer um pouco mais do esporte, já que a competição foi transmitida ao vivo em canal aberto.
"Ser um esporte de massa aqui no Brasil está meio longe. Mas acho que o país podia devagarzinho deixar de ser 'o país do futebol' para ser um país de multiplos esportes. Temos uma população que tem várias pessoas com muitas histórias de vida inspiradoras. Temos oito mil quilômetros de costa, mas no Brasil, infelizmente só se veleja no Rio, São Paulo e Sul e acho que falta um pontapé, marinas públicas e mais acesso ao mar", explicou Martine.
Na hora da disputa - "Euforia sentimos quando cruzamos a linha de chegada. Eu queria ir para a lua e voltar. Demorei dois dias para vir para casa e então foi caindo a fixa", contou Martine, que atpe guardou a medalha numa meia, já que não tem uma caixinha para evitar que a mesma arranhe.
As velejadoras dividiram o pódio e a mesma emoção, e contaram que o que mais favoreceu foi o fato de estarem se sentindo em casa, à vontade.
"Além de estarmos velejando em águas que sempre velejamos, a gente estava no forte, onde passamos um tempo lá. Isso fez bastante diferença. Para a gente foi uma coisa super normal, fiquei mais a vontade", disse Kahena.
Para a dupla, o envolvimento do treinador Javier Torres - que está com as jovens desde 2013 - também foi algo essencial. Segundo elas, ele merece 'metade da medalha de cada uma'.
"Com ele, a gente aprendeu como funciona nosso barco. Javier se dedicou 100%, sempre fazia a nossa logística inteira e não precisamos pensar em nada. Numa campanha, isso é muito importante. A partir de agora, tudo indica que temos um futuro promissor", finalizou Kunze.

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