Gabriela fugiu para nunca mais sofrer
Por Renata Sena, Marcela Freitas e Gustavo Carvalho
Tão avassaladora quanto a paixão da diarista Gabriela (nome fictício), de 44 anos, pelo taxista X, sete anos mais novo, foi a forma como o companheiro revelou quem realmente era em apenas três meses de relacionamento. Ansiosa pela chegada do marido em casa, após mais um dia exaustivo de trabalho, Gabriela abiu a porta para recebê-lo. Em vez do beijo que esperava, uma sessão de espancamento sem qualquer motivo aparente. O quinto capítulo da série ‘Minhas Marcas’ traz a história de uma mulher que carrega marcas de diferentes tipos de violência praticadas pelo homem que amava: psicológica, física, patrimonial e até sexual.
“Ele abriu a porta de casa e começou a me espancar. Começou a me ofender por causa do comprimento do meu short. Foi no meu armário e rasgou todas as minhas roupas. Dizia que mulher direita não usava roupa curta”.
Gabriela disse que o episódio foi o passaporte para o “inferno” em que se transformou a sua vida. Depois da primeira agressão, ela deixou a casa em que vivia com o companheiro, que não aceitou o fim da relação e impôs seu retorno ao lar através de ameaças.
Após quatro anos das torturas psicológicas, físicas, além de repetidas violências sexuais, Gabriela passou a conviver também com o consumo de cocaína dentro da própria casa, o que agravava ainda mais as agressões. Enquanto ele aspirava as fileiras de pó na sala, a diarista tinha que correr para preparar a refeição do seu algoz. “Enquanto ele se drogava, eu estava na cozinha preparando a refeição, a qualquer hora da noite. Se acabasse de consumir a cocaína e a comida não estivesse à mesa, ele me agredia. Eu morria de medo e nunca reagia. Quase fui assassinada”, disse.
A reação, no entanto, veio a partir de uma oportunidade de deixar o Ceará, no Nordeste brasileiro, para morar com a irmã, no Rio. Cansada de conviver com o próprio inimigo, ela resolveu romper com o ciclo de violência e fugiu com os dois filhos para São Gonçalo, há um ano.
Gabriela procurou a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher, onde foi orientada a buscar ajuda especializada no Movimento de Mulheres de São Gonçalo. Hoje, longe de seu agressor, ela se diz muito feliz, mesmo fazendo uso de antidepressivos, já que a violência lhe deixou marcas.
“Hoje vivo para meus filhos e para o trabalho. Mesmo após um dia exaustivo, agradeço a Deus. Nada paga a liberdade que tenho atualmente. Deito na cama e sei que naquela noite não vou apanhar. Nunca mais. Isso não tem preço”, emocionou-se.