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Gabriela fugiu para nunca mais sofrer

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 20 de agosto de 2016 - 10:45
Imagem ilustrativa da imagem Gabriela fugiu para nunca mais sofrer

Por Renata Sena, Marcela Freitas e Gustavo Carvalho

Tão avassaladora quanto a paixão da diarista Gabriela (nome fictício), de 44 anos, pelo taxista X, sete anos mais novo, foi a forma como o companheiro revelou quem realmente era em apenas três meses de relacionamento. Ansiosa pela chegada do marido em casa, após mais um dia exaustivo de trabalho, Gabriela abiu a porta para recebê-lo. Em vez do beijo que esperava, uma sessão de espancamento sem qualquer motivo aparente. O quinto capítulo da série ‘Minhas Marcas’ traz a história de uma mulher que carrega marcas de diferentes tipos de violência praticadas pelo homem que amava: psicológica, física, patrimonial e até sexual.

“Ele abriu a porta de casa e começou a me espancar. Começou a me ofender por causa do comprimento do meu short. Foi no meu armário e rasgou todas as minhas roupas. Dizia que mulher direita não usava roupa curta”.

Gabriela disse que o episódio foi o passaporte para o “inferno” em que se transformou a sua vida. Depois da primeira agressão, ela deixou a casa em que vivia com o companheiro, que não aceitou o fim da relação e impôs seu retorno ao lar através de ameaças.

“Ele sempre me batia, principalmente quando bebia. Eram murros na cabeça por motivos diversos. Se eu fizesse hora extra no trabalho, ele me batia. Quando recebia meu salário, ele roubava todo o dinheiro. Tornei-me escrava. Além das agressões físicas, sofri violência sexual. Só em uma noite ele me estuprava uma, duas, três vezes... Fui sendo consumida aos poucos. Não aguentava mais aquela situação, pois estava morrendo aos poucos”, recordou.
“Ele me batia e eu não esboçava qualquer tipo de reação. As lágrimas só corriam dos meus olhos. Por não gritar ou reagir, ele me ofendia ainda mais. Dizia que eu era pior do que mulher de cabaré, por apanhar calada. Por vezes, senti vontade de matá-lo e também de tirar a minha própria vida”, completou emocionada.

Após quatro anos das torturas psicológicas, físicas, além de repetidas violências sexuais, Gabriela passou a conviver também com o consumo de cocaína dentro da própria casa, o que agravava ainda mais as agressões. Enquanto ele aspirava as fileiras de pó na sala, a diarista tinha que correr para preparar a refeição do seu algoz. “Enquanto ele se drogava, eu estava na cozinha preparando a refeição, a qualquer hora da noite. Se acabasse de consumir a cocaína e a comida não estivesse à mesa, ele me agredia. Eu morria de medo e nunca reagia. Quase fui assassinada”, disse.

A reação, no entanto, veio a partir de uma oportunidade de deixar o Ceará, no Nordeste brasileiro, para morar com a irmã, no Rio. Cansada de conviver com o próprio inimigo, ela resolveu romper com o ciclo de violência e fugiu com os dois filhos para São Gonçalo, há um ano. 

Gabriela procurou a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher, onde foi orientada a buscar ajuda especializada no Movimento de Mulheres de São Gonçalo. Hoje, longe de seu agressor, ela se diz muito feliz, mesmo fazendo uso de antidepressivos, já que a violência lhe deixou marcas.

“Hoje vivo para meus filhos e para o trabalho. Mesmo após um dia exaustivo, agradeço a Deus. Nada paga a liberdade que tenho atualmente. Deito na cama e sei que naquela noite não vou apanhar. Nunca mais. Isso não tem preço”, emocionou-se.

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