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Quando as feridas estão na alma

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 18 de agosto de 2016 - 10:25
Imagem ilustrativa da imagem Quando as feridas estão na alma
Por Renata Sena, Marcela Freitas e Gustavo Carvalho
A violência cometida contra Madalena (nome fictício) não deixava marcas físicas, mas lhe causava dor semelhante ou maior do que aquelas. Gritos, ameaças, xingamentos e chantagens faziam parte da rotina da administradora, de 43 anos, vítima de um tipo de agressão que leva pelo menos oito mulheres diariamente às delegacias de São Gonçalo: a violência psicológica. De acordo com dados do Dossiê Mulher, divulgados pelo Instituto de Segurança Pública do Rio em 2015, 2.780 mulheres denunciaram companheiros ou ex-companheiros por essa forma subjetiva de violência, cuja identificação se torna difícil para as próprias vítimas, como ocorreu com Madalena. Após 13 anos de um relacionamento opressor, ela partiu em busca de sua liberdade. 
“Fui vítima do sequestro da minha própria identidade. Vivia com o meu sequestrador e não sabia. Na verdade, não sei nem como fui permitindo que isso acontecesse. Hoje, padeço de problemas físicos e psicológicos, por conta de um homem que adoeceu a minha mente com a sua agressividade”, recorda. 
Madalena conta que o ex-companheiro, com quem teve dois filhos, sempre foi ciumento. Mas, com o passar dos anos, ele passou a limitar seus passos. Quando falava em retomar a carreira de administradora, o homem sempre insinuava que ela pretendia arrumar outro parceiro. Aos 38 anos, a relação ficou ainda pior quando ela foi acometida pela menopausa precoce. 
“Ele não entendia e me xingava. Só me tratava com palavras depreciativas. Insinuava que eu era puta e que tinha vários homens. Me chamava até de lésbica. Passou a ter ciúme de todas as figuras masculinas que estavam próximas de mim e passou a ofender o nosso filho. Até o cachorro, que era macho, foi doado por conta do ciúme doentio”, revelou.
Madalena contou ainda que a situação ficou insustentável quando o filho do casal passou a ser alvo das agressividades do pai. “Enquanto ele me ofendia, eu ainda suportava. Mas agressões chegaram ao nosso filho, o que foi decisivo para eu pedir a separação. Passei a dormir na sala e ele ficava vários dias longe de casa. Um dia fui conversar com meu filho e explicar a situação. Ele então me disse que não aguentava mais os insultos do pai e que aos cinco anos havia pensado em cometer suicídio para dar fim ao sofrimento. Foi então que decidi dar um verdadeiro basta”, contou.
O caminho da liberdade e da recuperação da própria identidade começou a partir do Movimento de Mulheres de SG. “Para tomar essa decisão não é fácil. A mulher precisa estar preparada. Eu ainda vivo subjugada, pois os familiares não aprovam. Se a vítima não tem o corpo dilacerado, marcas físicas, é difícil até ser ouvida na delegacia. A sociedade impõe que temos que pensar nas crianças, que vale a pena. Até ser atendida no Movimento de Mulheres, eu vivi uma verdadeira via crucis”, relembra.
Para a assistente social Bárbara Maria, 43, o que muitos ainda não entendem é que as marcas psicológicas, às vezes, são piores que as provocadas pelas agressões físicas. “Precisamos romper com o silêncio mediante a qualquer violência. Não podemos esperar as agressões. As marcas no corpo ficam expostas, mas as marcas psicológicas são as mais difíceis de serem curadas”, destacou.
Madalena hoje está em processo de separação e tenta a garantia de seus direitos na Justiça. Seu ex-companheiro passou todos os bens para terceiros, na tentativa de impedir que ela busque seus direitos. Ele ainda acusa a esposa de alienação parental, mas são os filhos que se recusam a vê-lo.

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