Instagram Facebook Twitter Whatsapp
Dólar R$ 5,1937 | Euro R$ 5,5292
Search

História de sofrimento e puro amor

Casal de SG vive em função da filha em estado vegetativo. A jovem foi vítima de assalto há 2 anos

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 25 de julho de 2016 - 10:10
 Suelen, de 28 anos, levou muitas pancadas na cabeça durante assalto à loja em que trabalhava, em Maria Paula
Suelen, de 28 anos, levou muitas pancadas na cabeça durante assalto à loja em que trabalhava, em Maria Paula -

Por Marcela Freitas

Oito de fevereiro de 2014, um sábado, o relógio marcava 20h. Era a hora da jovem Suelen Cunha de Oliveira, então com 26 anos, dar fim ao expediente exaustivo de mais de 12 horas, em uma lan house, em Maria Paula, São Gonçalo. Mas aquele dia não terminou como ela planejava.

Pausa no tempo... No dia anterior, uma sexta-feira, ela havia saído para comemorar o aniversário do irmão David Willian Cunha de Oliveira, à época com 24 anos. Como trabalhava no dia seguinte, foi embora da festa mais cedo e, mesmo assim teve dificuldades para acordar e sair para trabalhar.

Voltando ao sábado, dia 8: Ela beijou a filha que viajaria com os avós para Saquarema, na Região dos Lagos, tomou um gole de café e deu tchau, rumo ao trabalho. A família nunca imaginaria, no entanto, que aquela dia não terminaria bem. Às 20h30 o telefone de David tocou e do outro lado da linha um amigo anunciou: “Aconteceu alguma coisa com sua irmã e ela está ferida”. David saiu correndo e foi ao trabalho da irmã, onde recebeu a notícia de que a lan house havia sido assaltada, e Suelen havia sido ferida no pescoço por um estilete, além de ter levado pancadas na cabeça...

Começava ali o inferno para a família: depois de cinco meses de internação, dois deles passados num CTI, onde sofreu um AVC, parada cardíaca e teve que ser reanimada, veio o diagnóstico definitivo: Suelen estava condenada a viver em estado vegetativo.

A sentença mudou completamente a vida de toda a família. O pai da jovem, José dos Santos Oliveira, 63, que administrava uma pequena lanchonete, precisou fechá-la, e a mãe Cecília Cunha, 60, abandonou as faxinas.

Suelen, que antes ajudava a família e cuidava sozinha da filha, passou a ser prioridade para os pais. Ele vendeu a casa da família e, com o dinheiro comprou uma Kombi para leva a filha para as consultas médicas. Hoje, a única renda da família é o benefício recebido por Suelen de um salário mínimo que está ameaçado, caso a mãe não consiga em 45 dias comprovar que ela está sob sua curatela definitiva.

A mãe que poderia também se aposentar foi informada pelo INSS que deveria optar por apenas um benefício. Pensando em sua neta, filha de Suelen de 10 anos, ela disse que optará pelo benefício da filha.

Hoje morando no Jóquei, em uma casa adquirida através do programa “Minha Casa, Minha Vida”, a família tenta conseguir tratamento psicomotor para a jovem. “Ela fazia tratamento na Associação Fluminense de Reabilitação (AFR), em Niterói, mas nos informaram que a instituição perdeu o convênio com o SUS. Hoje estamos levando ela na Abrae, no centro de São Gonçalo, mas lá, para o caso dela, não é oferecido o serviço de fonoaudióloga que é uma necessidade. Meu sonho é conseguir que ela seja tratada na Rede Sara”, disse a mãe. Suelen não fala e se alimenta por sonda, mas mesmo com todas as dificuldades o pai acredita em sua recuperação. “O milagre está em Deus. Eu e a mãe dela nos dedicamos inteiramente à ela. Onde somos informados de tratamento, nós vamos. Graças a Deus, conseguimos incluí-la na Abrae. Os membros dela estavam se atrofiando sem a fisioterapia. Queria pelo menos ver a minha filha voltar a falar. Eu mesmo tento repetir em casa a fisioterapia feita na clínica”, contou.

Indefinição quanto a direitos sociais

A mãe de Suelen paga a sua aposentadoria há mais de 15 anos. Prestes a se aposentar, ela teve o direito negado e, segundo o INSS por ser curadora de sua filha, ela teria que optar por apenas um benefício Hoje, a família vive apenas com o salário mínimo recebido por Suelen, proveniente do Amparo Social (LOAS), mas o valor é inferior a R$ 220 por pessoa como diz a lei, já que vivem em casa seis pessoas, entre elas uma criança. Só de medicamentos e fraldas Suelen gasta mais de R$ 500 mensais. 

Em nota, o INSS informou que o benefício de Suelen “se encontra com DCI - Data da Cessação Inicial, fixada pelo sistema, no prazo de 2 anos após a concessão, para fins de revisão do direito.Portanto é obrigatória a apresentação, a cada 6 meses, para que não haja suspensão automática pelo sistema, do documento de administrador provisório com data atualizada, enquanto não é emitida a curatela definitiva”.

Ajuda - Ao tomar conhecimento do caso através de O SÃO GONÇALO, a Prefeitura de São Gonçalo informou que incluirá a jovem no Serviço de Atendimento Domiciliar (Sad). 

Quem puder ajudar a família,pode entrar em contato com os telefones 3840-2077 ou 97015-9553.

Depoimentos

‘Queria estar no lugar dela’

“Eu queria estar no lugar dela. Daria minha vida pela dela. Minha filha era maravilhosa. Uma mãe dedicada e carinhosa. A Deus pertence o julgamento de quem fez isso com ela. Desde que isso aconteceu, vivo 24 horas por dia para ela. Não tem coisa mais triste do que ouvir a minha neta perguntar: Vovó, quando minha mãe vai melhorar para me pegar no colo de novo”? Cecília Cunha

Cidade registra mais de 9,6 mil vítimas da violência desde 2014 

Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) revelam que São Gonçalo registrou, de 2014 até maio deste ano, 9.648 casos de vítimas de lesão corporal. Somente em 2014, ano em que Suelen foi vítima de assalto que culminou em lesão dolosa, foram 4.328 registros na cidade. Em 2015, o município contabilizou outros 3.827 casos. E apenas nos cinco primeiros meses deste ano, o número já chega a 1.493. 

Até hoje o culpado pelo assalto de Suelen não foi descoberto e punido. O caso na época era investigado pela 75ªDP (Rio do Ouro). A loja em que ela trabalhava foi fechada logo após o crime. 

Matérias Relacionadas