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Wilker Beckery: A superação através da Arte

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 06 de janeiro de 2017 - 12:40
Wilker e sua turma após apresentação
Wilker e sua turma após apresentação -

Por Juliana Bittencourt

No centro de Rio Bonito, na Rua Pedro Colares, mora Wilker Beckery, um jovem artista de 22 anos. Quem vê seu talento circense e a alegria com que realiza seu trabalho, mal desconfia que o rapaz teve uma infância muito triste. Pobre, negro, gago e filho de ex presidiário, ele conta que nunca teve muitas oportunidades na vida: "Todos achavam que eu seguiria os passos do meu pai". Mas foi através da arte que Wilker descobriu uma segunda chance.  Atualmente ele é oficineiro de circo no projeto Lona na Lua - uma iniciativa sem fins lucrativos de cunho cultural que faz arte em comunidades carentes da cidade - e lá o rapaz excluído descobriu que poderia "ser protagonista de sua própria história". 

Desde muito cedo Wilker teve uma vida marcada por traumas. Fruto de uma relação ocorrida durante uma visita ao presídio, aprendeu a viver numa realidade muito diferente das crianças de sua idade. O oficineiro conta que todo domingo visitava seu pai e sonhava em um dia sair para tomar sorvete com ele, mas sentia-se intimidado quando chegava na escola e a professora pedia para escrever uma redação sobre como foi o seu o fim de semana, coisa que acontecia frequentemente. As piadas e o bullying acompanhavam o menino, que antes dos 12 anos de idade já sofria de síndrome do pânico e depressão, sendo submetido a medicamentos pesados. Tudo parecia muito triste para o pequeno Wilker, até conhecer Zeca Novais, idealizador do projeto Lona na Lua. 

Zeca trafegava com sua bis cinza entre as escolas de Rio Bonito oferecendo oficinas de teatro. Foi através dessa iniciativa que o jovem teve seu primeiro contato com a arte. Um dia Zeca reuniu os alunos e lhes fez a proposta de fazer algo jamais visto na cidade de Rio Bonito: "armar uma lona na lua e fazer arte em qualquer lugar". O grupo levava uma tenda para comunidades carentes da cidade e dentro dela fazia exposições culturais, apresentações e oficinas. O projeto cresceu - hoje possui uma cede reformada pelo Caldeirão do Huck para proporcionar aos seus alunos uma experiência mágica- e Wilker evoluiu com ele, virou oficineiro de circo e hoje ajuda no sustento de sua família. 

Wilker sente uma profunda alegria ao falar do projeto: "A lona é uma família. (...) Tenho o Zeca como um pai que nunca tive". A relação vivenciada lá ajudou a construir seu caráter: ele reconhece que o projeto o ajudou a focar nas coisas do bem. Além de ser oficineiro, o jovem também faz animação de festas, mas procura colocar a Lona sempre em primeiro lugar, dedicando-se quase que integralmente à iniciativa. Segundo ele, sempre tem trabalho a ser feito, seja dando aula, varrendo o chão ou ajudando na cantina. 

Para o artista, ser oficineiro é uma experiência única: "É muito bom saber que estou transformando a vida das pessoas, assim como transformaram a minha (...) Você não é só professor, você é pai, mãe, anjo... ". Em seus alunos e colegas de trabalho ele encontrou uma segunda família baseada em carinho, amor e fidelidade. 

Mesmo após ter superado tantos traumas, Wilker diz que ainda sofre preconceito. Os olhares atravessados e o peso de sua história ainda o acompanham, seja na família, enquanto trabalha como animador ou na rua. Mas isso não o desanima: "Não importa quantos obstáculos colocam no meu caminho (...) O que eu tiver que fazer para mudar a vida de algum jovem, eu vou fazer!". O oficineiro de Rio Bonito quer provar que não existe regra imposta socialmente, que toda criança pode ser o que ela quiser, basta um ombro amigo para auxiliá-la. 

Para o futuro, Wilker deseja à Lona e à si próprio "Paz, luz e cultura". Quer ter uma vida boa e honesta através de seu trabalho e continuar transformando a vida de crianças e adolescentes, através da arte. A mensagem que ele deixa à todos os jovens que estejam passando por uma situação semelhante a sua é que nunca deixem de sonhar e não desistam daquilo que os impulsiona a seguir adiante.

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