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Na arte da dança, casal deu ‘um show’ na avenida pela Viradouro em 1997

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 15 de fevereiro de 2017 - 18:42
Diogo, Patrícia e Alessandra: duas gerações na Unidos do Viradouro
Diogo, Patrícia e Alessandra: duas gerações na Unidos do Viradouro -

Por Sérgio Soares, Ari Lopes, Rennan Rebello e Laryssa Moura

A nobre arte da dança é algo precioso no mundo do samba, ainda mais quando se carrega o pavilhão de uma escola. Dessa arte, Patrícia Gomes de Souza, de 44 anos, entende muito bem. Moradora do Jardim Catarina, em São Gonçalo, ela emprestou seu talento durante anos a várias agremiações. Mas guarda, como o ‘tesouro maior’ a bandeira da Unidos do Viradouro usada no desfile de 1997, quando a escola de Niterói conseguiu o único título na chamada ‘elite’ do Carnaval na Marquês de Sapucaí.

A glória maior de ter conseguido notas dez de todos os jurados ela divide com um companheiro que a acompanhou durante vários carnavais na Viradouro: André de Souza, o ‘Andrezinho Nota 10’. “Ele foi meu grande mestre-sala em minha carreira”, declarou. A aplicação e o entrosamento, a partir dos ensaios, foram o que determinaram, segundo ela, as notas dez dadas pelos jurados. “Eramos experientes, talentosos e nos conhecíamos bastante. O desfile contagiante nos estimulou a se apresentar buscando a perfeição”, declarou ela. Patrícia fala com orgulho de ter sido a primeira porta bandeira no sambódromo a conseguir notas 10 de todos os julgadores. “O presidente José Carlos Monassa me trouxe pra cá e acabei ficando por 16 anos”, declarou. Patrícia é ‘cria da Mangueira e herdou da família a nobre arte da dança. Sobrinha de Neide, ex-porta bandeira do saudoso Delegado, ela aprendeu a verde e rosa os primeiros segredos da arte. Em 1985, durante uma exibição na Caprichosos de Pilares, agradou tanto que foi convidada a desfilar, quando ainda era menor de idade. Já como um talento reconhecido no mundo do samba, acabou sendo convidada a substituir a porta da bandeira da São Clemente que havia sofrido um acidente no Carnaval de 1990. “Fomos o único casal a conseguir a nota 10”, relembrou. Nesse mesmo ano, ela começava a sua história na Viradouro. Ao longo da carreira, ela também dançou na Porto da Pedra e União da Ilha, onde encerrou a carreira em 2001.

Encontro entre gerações

Nesse ano, a advogada Alessandra Chagas, 32, será a primeira porta-bandeira da Viradouro, mas há 20 anos, a então pequena Alessandra, era passista mirim e participou da campanha que culminou no título inédito no carnaval carioca de 1997. Mas naquele ano, a então pequena Alessandra, tinha um outro sonho, em ser como a Patrícia Gomes, a porta bandeira campeã pela vermelho e branco niteroiense. “Eu fui criada aqui na escola e eu ia aos ensaios com meus pais, e me divertia. Mas ficava de longe, olhando a Patrícia por horas, eu achava lindo e pensava ‘um dia serei como ela’ e hoje, estou aqui, muito feliz apesar da grande responsabilidade”, revelou. Essa não será a primeira experiência de Alessandra como porta-bandeira da Viradouro. Em 1996, antes do ‘ano mágico’, ela teve uma oportunidade ‘de ser como a Patrícia’. “Eu já assumi esse posto em outras escolas como a Porta da Pedra, mas aqui, também fui porta-bandeira mirim, naquela época o Joãosinho Trinta era o carnavalesco e criou uma ‘escola de samba’ para as crianças dentro da Viradouro e eu desfilei”, disse.

Lisonjeada em ter sido inspiração, Patrícia rasga elogios à pupila e declara seu amor pela agremiação de Niterói. “A Alessandra puxou um pouco de mim, uma mistura de amor, emoção e carinho. Não é a toa que ela está em meu lugar. Desejo que ela entre com o pé direito na avenida com todo o seu brilho, paixão e confiança. Tenho certeza que ela fará o seu melhor. Em 1997, desfilei confiante e com muito amor pela Viradouro, que surpreendeu todo mundo na Sapucaí”, disse. O Técnico de Segurança do Trabalho, Diogo Machado de 26 anos, morador do Méier, estreia este ano como mestre sala e contou como está sendo sua nova experiência na escola. “,Estou sendo tratado com muito carinho, estou me sentindo em casa está sendo um prazer enorme estar aqui. Uma escola com um legado gigantesco, com bons carnavais”, disse. O jovem chegou à agremiação niteroiense através de amigos e virou mestre sala por causa de uma velha conhecida da escola, a primeira porta bandeira Alessandra Chagas. “Alguns amigos que foram da Viradouro e através de seus contatos no carnaval acabei conhecendo a Alessandra, em maio do ano passado, que acabou me fazendo um convite para eu ser o seu par na avenida e eu aceitei na hora”, revelou.

Mestre sala saiu de cena dos desfiles

Personagem do título da Viradouro, ao lado da porta bandeira Patrícia, André de Souza, de 44 anos, o ‘Andrezinho Nota 10’, está longe do mundo do samba. Infelizmente, a desenvoltura e o grande talento nos desfiles não venceram a dependência dele pelas drogas. Para sustentar o vício em cocaína, assaltou uma mulher em um ponto de ônibus em São Gonçalo, em 2007, e acabou preso.

Em 2009, conseguiu o benefício do regime semi-aberto, e após cumprir dois anos e seis meses da pena, recebeu do diretor de Harmonia da Beija Flor, Lailá, uma chance de trabalhar no ateliê escola de Nilópolis, além de conseguir o posto de terceiro mestre sala na Marquês de Sapucaí, ao lado da porta bandeira Naninha Filé. Na época, Andrezinho ficou agradecido com a grande chance, mas não conseguiu se firmar na escola.

A perda da mãe, um grande pilar na recuperação do mestre-sala, o teria abatido. Desde então, não é mais visto no mundo do samba. Nascido num conjunto da Estrada do Itararé, na Favela Nova Brasília, em Bonsucesso, no Rio, Andrezinho aprendeu a dançar observando um vizinho, aos 12 anos. As dicas de quem entendia do gingado o levaram à escola mirim da Lins, onde iniciou a carreira de mestre-sala e atuou por seis anos. Em 1987, conquistou o posto de segundo mestre-sala num concurso da São Clemente, com Verinha. O bom desempenho carimbou o passaporte para a Viradouro, onde ficou até 2005.

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