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ARTIGO 304: SHAKESPEARE VISITA O SOLAR DO JAMBEIRO

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 22 de maio de 2016 - 12:32
Na terça-feira passada, fui convidada para ir ao Solar do Jambeiro, em Niterói,
assistir a um espetáculo teatral, homenageando os 440 anos bem vividos do dramaturgo
inglês, William Shakespeare. Aceitei imediatamente o convite, não só porque se tratava
de um dos maiores escritores da literatura universal, como pela curiosidade de saber
como a direção da peça estaria dispondo o espetáculo, no vasto e múltiplo espaço
daquele belíssimo casarão do século XIX, com seus jardins, salões e sobrado. Por volta
das 19h15, lá estava eu em frente ao casarão histórico para pegar minha senha, já que o
evento é gratuito e só acontece às terças-feiras à noite.
Às 20 horas, teve início o espetáculo, já me surpreendendo pela forma como
foi aberto: uma entrevista com Bábara Heliodora, estudiosa de Shakespeare, foi
projetada em vídeo, tomando toda a fachada do solar. Terminada esta parte, o público,
de acordo com a escolha que fez, seguiu a bandeira da cor da sua senha. Pude, então,
perceber que eu, naquela terça-feira, assistiria a todas as cenas propostas para a bandeira
vermelha e teria de voltar na outra semana para assistir às cenas que diziam respeito à
bandeira amarela o que, de pronto, me instigou. A partir daí, era só assistir às cenas e
avaliar se valeria a pena voltar. E vale. Com certeza eu volto.
O espetáculo se divide em blocos com encenações simultâneas, concebidas
numa linguagem do teatro coreográfico. Uma linguagem que se arquiteta em total
liberdade de criação, usando referências do cotidiano histórico, como forma de
construção da teatralidade dos movimentos corporais dos atores. Na composição dos
fragmentos escolhidos – já que o espetáculo é uma artística “colcha de retalhos” de
obras do bardo inglês -, estão: Romeu e Julieta, Hamlet, A Megera Domada e Rei Lear.
A incursão que o espectador se faz nas cenas apresentadas se realiza através de uma
excursão pelo casarão do Solar do Jambeiro: dentro dos "salões do castelo", em frente
às muralhas do jardim - que se transformam nas "Muralhas de Tebas" – diante da
sacada do 2º. andar - que vira "Balcão de Julieta", dentre outras soluções geniais.
Entre uma cena e outra, a plateia se junta em frente à escadaria central do Solar
com todos os atores que contam, neste momento, partes da vida de Shakespeare e cenas
de seus textos mais conhecidos, numa linguagem acessível a todo o público e com
interessantíssimos toques de comédia. O elenco deixa-nos, por todo o tempo,
embevecidos e entregues à verdadeira magia do teatro, tamanha a excelência de seu
trabalho. Eleusa Mancini assina a Direção Geral. Ela explica que há dez anos o grupo
vem pesquisando a linguagem cênica do teatro coreográfico e eu digo que o resultado
do estudo tem a marca da excelência. Agora, vem a melhor parte para os pais, os
educadores e os atores: havia muitas crianças de idades variadas – de 05 a 10 anos – que
assistiam a todas as encenações atentas, completamente inebriadas, vivendo por inteiro
aquele mágico momento.
Foi o próprio Shakespeare quem disse que “As palavras estão cheias de
falsidade ou de arte; o olhar é a linguagem do coração”, e aquelas crianças olhavam
com o coração e viviam com a alma a beleza daquela apresentação feita só com homens
- como era o teatro à época -, sem cenários montados, sem figurino especial, mas com o
vigor e a competência dos atores que transformaram os textos de outrora na magia do
aqui e agora. Carlos Drummond de Andrade disse que Ir ao teatro é como ir à vida sem
nos comprometer. E foi isto que todos nós fizemos lá, naquela terça-feira, ligados tão
somente à emoção que o espetáculo nos oferece. Quem puder, não perca a oportunidade
de assistir a este magnífico trabalho. Vale a pena!

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