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Aposentada revive trajetória do pai no Centro de Imigração da Ilha das Flores, em Neves

Aposentada revive trajetória do pai no Centro de Imigração da Ilha das Flores, em Neves

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 21 de abril de 2016 - 20:57
Frauke Kleiber (à direita) conheceu o local onde seu pai foi apreendido no início do século passado, acompanhada de professores da Uerj e por uma sobrinha com seu marido.
Frauke Kleiber (à direita) conheceu o local onde seu pai foi apreendido no início do século passado, acompanhada de professores da Uerj e por uma sobrinha com seu marido. -

Por Daniela Scaffo

O Centro de Memória da Imigração da Ilha das Flores, na Base da Marinha, em Neves, São Gonçalo, recebeu ontem pela manhã a visita da alemã Frauke Kleiber, de 78 anos, que refez a trajetória de seu pai, Johann Kleiber. O homem ficou apreendido na primeira hospedaria de imigrantes do Brasil, no século XX, durante a participação do Brasil na Primeira Guerra Mundial.

A curiosidade de Frauke pela história de seu pai surgiu há três anos, quando a aposentada decidiu escrever uma biografia dele, a partir de um diário que Johann deixou após sua morte. Com esse recurso e com auxílio da internet, a alemã entrou em contato com a equipe da Ilha das Flores e descobriu tudo que ocorreu durante o período que Johann esteve no Brasil.

Johann era marinheiro e estava com o navio alemão atracado no porto de Cabedelo, em João Pessoa, Paraíba, em 1914, quando o Brasil ainda tinha uma boa relação com a Alemanha. Mas quando o país resolveu entrar na Primeira Guerra Mundial, em 1917, as embarcações estrangeiras foram retidas, e os tripulantes apreendidos na Ilha das Flores. Cerca de 3 mil alemães ficaram apreendidos na hospedaria de São Gonçalo.

“Alguns dos navios retidos foram cedidos para a França, para combate durante a guerra, e outros fizeram parte da frota brasileira. Apesar dos alemães terem ficado apreendidos, haviam acordos internacionais, na época, de como tratar prisioneiros, então eles ficavam livres pela ilha”, contou o professor de História da Uerj, Rui Aniceto, que realizou a visita guiada juntamente com um intérprete.

Apesar do tratamento recebido na Ilha das Flores, o marinheiro alemão fugiu utilizando uma linha de trem (Estrada de Ferro Leopoldina) que passava em frente à hospedaria e levava até Friburgo, na Região Serrana, onde existia um sanatório naval. O local era utilizado para abrigar presos que possuíam doenças. Com um olhar emocionado, Frauke Kleiber, acompanhada do marido e de uma sobrinha, conheceu os alojamentos em que seu pai dormia, além de ter conferido as maquetes de como era a ilha antes de passar por diversas reformas.

“Meu pai era marinheiro mas, apesar de muito ausente, ele era amoroso com suas três filhas. As decisões de casa eram tomadas apenas quando meu pai voltava das viagens, principalmente por causa do período em que a Alemanha passava na época”, contou a professora aposentada Frauke Kleiber.

Em 1919, quando terminou a Primeira Guerra Mundial, Johann e os outros alemães foram libertados. O marinheiro seguiu para a Argentina junto com outros colegas, após arrumar um emprego oferecido por uma americana, pelo fato dele ter sido fluente em inglês.

Na década de 1930, Johann retornou para a Alemanha, onde se casou, teve três filhas, reintegrou-se à Marinha Mercantil e morreu na década de 1970, com mais de 80 anos.

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